Composição de Início dos anos 1930

Vitória

Letra

Antes da vitória
Não se deve cantar glória
Você criou fama
Deitou-se na cama
Eu que não estou dormindo
Vou subindo, vou subindo
Enquanto você vai decaindoQuero a minha independência
E com jeito e paciência
Me preparo pro futuro
Não garanto, nem duvido
Mas você tome sentido que entre nós o páreo é duro
Aguentei muita indireta
Mas andei na linha reta
Não maldigo a minha sorte
Vou agindo com cadencia
Sei que a minha independência há de ser a sua morte
(Vitoria!)Se sua voz, se alguém percebe
Bem humilde lhe recebe
Sua entrada ninguém ferra
Você goza de ventura
Mas quem voa em grande altura
Leva sempre grande queda
Não tenho medo de grito
Sempre fiz papel bonito, o que eu falo é bem pensado
Não aceito escaramuça
E que aceite a carapuça quem se sentir melindrado

História da Canção

A canção "Vitória", com sua letra afiada e tom desafiador, se encaixa perfeitamente no estilo de Noel Rosa e no contexto de suas célebres disputas poéticas no samba carioca, embora esta letra em particular não seja de uma de suas canções mais documentadas. O período dos anos 1930 foi marcado por intensas rivalidades entre compositores, que usavam o samba como palco para duelos de inteligência e malícia. Noel, mestre na arte da réplica e da provocação, frequentemente engajava-se em polêmicas líricas, notavelmente com Wilson Batista.

Esta letra, hipoteticamente atribuída a Noel, reflete a essência dessas batalhas: a afirmação da própria capacidade e a crítica velada (ou nem tanto) a um rival. Frases como "Você criou fama / Deitou-se na cama" e "Enquanto você vai decaindo" são jabs diretos àqueles que, na visão de Noel, conquistavam a glória fácil e não mantinham o ritmo do trabalho árduo. A ênfase na "independência" e na "linha reta" de conduta moral e artística era um traço marcante do ideário do sambista, que via na sua arte uma forma de dignidade e reconhecimento conquistados com mérito.

A canção celebra a perseverança e a autoconfiança ("Não tenho medo de grito / Sempre fiz papel bonito"), enquanto adverte sobre a soberba e a queda iminente de quem "voa em grande altura" sem base sólida. O convite a "aceite a carapuça quem se sentir melindrado" é a assinatura final de um artista que não temia confrontos e dominava a arte de usar a palavra para expressar sua visão e defender seu lugar no panteão do samba.

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