Composição de Década de 1930

Vingança de malandro

Letra

É vivendo que se aprende
O malandro tudo entende
Eu espero a minha vez
Já faz hoje mais de um mês
Que ela me abandonou
Pra morar com um portuguêsIludindo com carinho
Explorou aquele anjinho
Pôs a casa no leilão
E depois meteu o braço
Bem na cara do palhaço
Veio me pedir perdão
Ela hoje tem a notaPra comprar minha derrota
Seu amor vou aceitar
Pois assim eu vou tomar
Pouco a pouco o seu dinheiro
E depois vou me pirar!

História da Canção

Embora a autoria desta letra específica ('Vingança de Malandro') não seja tradicionalmente atribuída a Noel Rosa em seu vasto cancioneiro, sua estrutura e temática se encaixam perfeitamente no universo lírico do Poeta da Vila. Se fosse uma composição de Noel, ela emergiria no efervescente cenário do Rio de Janeiro da década de 1930, período áureo de sua produção e da consolidação do samba urbano.

A canção reflete o arquétipo do malandro carioca, uma figura central na obra de Noel, não como um vilão, mas como um anti-herói esperto, que sobrevive com astúcia em meio às adversidades da vida urbana. A narrativa de traição ('Ela me abandonou pra morar com um português'), exploração e a subsequente virada de jogo do protagonista é um prato cheio para a ironia e o sarcasmo característicos do compositor.

A genialidade 'noeliana' aqui estaria na inversão de valores: o malandro, inicialmente o 'palhaço' que apanha e é abandonado, planeja uma vingança calculada e fria, explorando a riqueza da ex-amante para, no final, 'se pirar' com o dinheiro. Este tipo de subversão moral, onde a esperteza prevalece sobre a moralidade burguesa, era um elemento constante nas crônicas musicais de Noel Rosa, que retratava o cotidiano do morro e do asfalto com um olhar crítico e, muitas vezes, debochado. A menção de 'casa no leilão' e a sedução pelo dinheiro estrangeiro (o 'português') adicionam camadas de contexto social e econômico, típicas das observações aguçadas do compositor sobre a vida carioca da época.

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