Que Baixo!
Letra
Você cozinha, racha lenha E eu não racho Que baixo! Que baixo!Namora pulga, sem saber Qual é o macho Que baixo! Que baixo!Você me disse Que faz a gente De capacho Mas, eu não acho! Mas, eu não acho!Planta pinheiro Pra nasceu pinheiro Em cacho Que grande baixo! Que grande baixo!Você me disse Que passa bem Como contrabaixo Mas, eu não acho! Mas, eu não acho!Você assina Parte de um acordo E eu me agacho Que grande baixo! Que grande baixo!
História da Canção
A canção "Que Baixo!", embora talvez não seja uma das mais célebres do vasto repertório de Noel Rosa, é um fascinante exemplo da sua genialidade lírica e do seu olhar perspicaz sobre o cotidiano carioca dos anos 1930. Nestes versos, o "Poeta da Vila" tece uma rede de observações e críticas sociais disfarçadas em um humor ácido e um jogo de palavras que só ele dominava.
O título e o refrão "Que Baixo!" funcionam como um pilar central, explorando as múltiplas conotações da palavra. Ora pode significar algo de pouca importância, um ato ignóbil, uma condição humilhante, ou até mesmo uma nota musical grave, no seu estilo de mestre dos trocadilhos.
A letra constrói um contraste entre um "você" que realiza tarefas árduas e até mesmo ridículas ("cozinha, racha lenha", "namora pulga, sem saber qual é o macho") e um "eu" que se recusa a participar de tal mediocridade ou absurdidade ("E eu não racho"). Essa oposição pode ser interpretada como uma crítica velada às hipocrisias e às posturas sociais da época. A imagem de "namorar pulga" é de um sarcasmo sublime, denotando futilidade e falta de substância nas relações ou atividades de alguém.
Noel também satiriza a pretensão alheia com o verso "Você me disse Que faz a gente De capacho", onde a figura criticada se vangloria de manipular as pessoas, ao que o eu-lírico responde com um categórico "Mas, eu não acho!", afirmando sua autonomia de pensamento e resistindo à imposição.
A mais pura manifestação do surrealismo noel-rosiano surge em "Planta pinheiro Pra nasceu pinheiro Em cacho", uma imagem que desafia a lógica e ressalta a absurdidade de certas situações ou expectativas sociais, culminando no reforço "Que grande baixo!". O mesmo ocorre na brincadeira com o "contrabaixo", onde "passar bem" se confunde com o instrumento musical, em uma inteligente demonstração da sua maestria com a língua portuguesa.
"Que Baixo!" é, portanto, mais do que uma simples canção; é um espelho facetado da sociedade do seu tempo, filtrada pela visão única de Noel Rosa. Ele usa o humor e a ironia para comentar sobre as trivialidades, as contradições e as pequenas misérias humanas, solidificando seu legado como um dos maiores cronistas musicais do Brasil. Embora não figure entre seus maiores sucessos comerciais, seu valor reside na capacidade de ilustrar a profundidade e a versatilidade de sua obra.
Tópicos Relacionados
Conheça outras obras
Mais crônicas e versos do Poeta da Vila o aguardam no acervo.
Explorar o Acervo Completo