Composição de 1934

Que Baixo!

Letra

Você cozinha, racha lenha
E eu não racho
Que baixo!
Que baixo!Namora pulga, sem saber
Qual é o macho
Que baixo!
Que baixo!Você me disse
Que faz a gente
De capacho
Mas, eu não acho!
Mas, eu não acho!Planta pinheiro
Pra nasceu pinheiro
Em cacho
Que grande baixo!
Que grande baixo!Você me disse
Que passa bem
Como contrabaixo
Mas, eu não acho!
Mas, eu não acho!Você assina
Parte de um acordo
E eu me agacho
Que grande baixo!
Que grande baixo!

História da Canção

A canção "Que Baixo!", embora talvez não seja uma das mais célebres do vasto repertório de Noel Rosa, é um fascinante exemplo da sua genialidade lírica e do seu olhar perspicaz sobre o cotidiano carioca dos anos 1930. Nestes versos, o "Poeta da Vila" tece uma rede de observações e críticas sociais disfarçadas em um humor ácido e um jogo de palavras que só ele dominava.

O título e o refrão "Que Baixo!" funcionam como um pilar central, explorando as múltiplas conotações da palavra. Ora pode significar algo de pouca importância, um ato ignóbil, uma condição humilhante, ou até mesmo uma nota musical grave, no seu estilo de mestre dos trocadilhos.

A letra constrói um contraste entre um "você" que realiza tarefas árduas e até mesmo ridículas ("cozinha, racha lenha", "namora pulga, sem saber qual é o macho") e um "eu" que se recusa a participar de tal mediocridade ou absurdidade ("E eu não racho"). Essa oposição pode ser interpretada como uma crítica velada às hipocrisias e às posturas sociais da época. A imagem de "namorar pulga" é de um sarcasmo sublime, denotando futilidade e falta de substância nas relações ou atividades de alguém.

Noel também satiriza a pretensão alheia com o verso "Você me disse Que faz a gente De capacho", onde a figura criticada se vangloria de manipular as pessoas, ao que o eu-lírico responde com um categórico "Mas, eu não acho!", afirmando sua autonomia de pensamento e resistindo à imposição.

A mais pura manifestação do surrealismo noel-rosiano surge em "Planta pinheiro Pra nasceu pinheiro Em cacho", uma imagem que desafia a lógica e ressalta a absurdidade de certas situações ou expectativas sociais, culminando no reforço "Que grande baixo!". O mesmo ocorre na brincadeira com o "contrabaixo", onde "passar bem" se confunde com o instrumento musical, em uma inteligente demonstração da sua maestria com a língua portuguesa.

"Que Baixo!" é, portanto, mais do que uma simples canção; é um espelho facetado da sociedade do seu tempo, filtrada pela visão única de Noel Rosa. Ele usa o humor e a ironia para comentar sobre as trivialidades, as contradições e as pequenas misérias humanas, solidificando seu legado como um dos maiores cronistas musicais do Brasil. Embora não figure entre seus maiores sucessos comerciais, seu valor reside na capacidade de ilustrar a profundidade e a versatilidade de sua obra.

Tópicos Relacionados

#Noel Rosa#Samba#Música Brasileira#Que Baixo#Sarcasmo#Ironia#Cotidiano Carioca#História do Samba

Conheça outras obras

Mais crônicas e versos do Poeta da Vila o aguardam no acervo.

Explorar o Acervo Completo