Composição de Início da década de 1930 (estimado)

Nega

Letra

Nêga... Nêga...
Já te dei tudo 
Agora chegaChega pro cordão
Que eu sopro nos metá
Pois eu sou da banda
Do Batalhão Navá.Tu é nêga prosa
Tu não é palpiteira
Não vai á macumba
Não dança em gafieira.Pode vir chegando
Meu bem para o cordão
Mas traz a bandeja
Pra recolher tostão.

História da Canção

A canção "Nega", embora não seja uma das mais amplamente divulgadas ou registradas de Noel Rosa em fonogramas históricos com esta exata combinação de letra, carrega a inconfundível marca do Poeta da Vila. Sua estrutura lírica e temática remetem diretamente ao universo boêmio e carnavalesco que Noel tão brilhantemente retratou no início da década de 1930.

A letra nos apresenta a um malandro, figura central na obra de Noel, que convida sua "nêga" para o "cordão" – uma referência aos blocos e ranchos carnavalescos que animavam as ruas do Rio de Janeiro daquela época. O eu-lírico se orgulha de ser "da banda do Batalhão Navá", evocando a presença militar e suas bandas nos festejos populares, misturando a autoridade formal com a alegria espontânea do povo.

A descrição da "nêga prosa" é particular: ela "não é palpiteira", "não vai à macumba", "não dança em gafieira". Essa caracterização pode ser interpretada de diversas formas: talvez o malandro esteja enaltecendo uma certa recatice ou distinção de sua parceira, ou, com a sutil ironia que lhe era peculiar, estaria de fato apontando para uma mulher que, apesar de sua pose, ele deseja trazer para a folia. A proibição ou ausência em macumbas e gafieiras poderia ser um ideal de comportamento doméstico ou uma forma de controle social dentro do relacionamento, contrastando com o ambiente "livre" do carnaval.

Contudo, a cereja do bolo, e um toque de realismo social típico de Noel, vem no final: "Mas traz a bandeja / Pra recolher tostão." Essa linha revela a dura realidade financeira que muitas vezes se escondia por trás da alegria dos festejos. A festa, a música e a diversão, para muitos, eram também meios de subsistência, exigindo que até a amada contribuísse para a "caixinha" da folia. É um retrato fiel da malandragem carioca que mesclava o lazer com a necessidade, a arte com o sustento.

"Nega" é, assim, uma janela para a sociedade carioca da época, com suas contradições, seu humor e sua persistente busca por alegria, mesmo diante das adversidades.

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