Último desejo
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Letra
Nosso amor que eu não esqueço E que teve o seu começo Numa festa de São João Morre hoje sem foguete Sem retrato e sem bilhete Sem luar, sem violão Perto de você me calo Tudo penso e nada falo Tenho medo de chorar Nunca mais quero o seu beijo Mas meu último desejo Você não pode negar Se alguma pessoa amiga Pedir que você lhe diga Se você me quer ou não Diga que você me adora Que você lamenta e chora A nossa separação Às pessoas que eu detesto Diga sempre que eu não presto Que meu lar é o botequim Que eu arruinei sua vida Que eu não mereço a comida Que você pagou pra mim
História da Canção
Composta por Noel Rosa em 1937, “Último Desejo” é uma das joias póstumas do Poeta da Vila, lançada após seu falecimento em maio do mesmo ano. A canção é um testamento da genialidade lírica de Noel, que mesmo enfrentando o agravamento de sua tuberculose, manteve sua perspicácia e ironia afiadas.
A letra de “Último Desejo” é um adeus amargo e singular a um amor que “morre hoje sem foguete”. Noel, com sua maestria em traduzir os sentimentos humanos mais complexos, descreve a dor da separação, o medo de chorar e o desejo de não querer mais o beijo da amada. Contudo, o que torna a canção inesquecível e a eleva a um patamar de obra-prima é a inversão irônica nas últimas estrofes.
Em vez de um pedido melancólico, o eu-lírico dita à ex-parceira como ela deve lidar com a memória do relacionamento: para os amigos, ela deve dizer que o adora e chora por sua separação; mas para as pessoas que ele detesta, ela deve difamá-lo, pintá-lo como o vilão que arruinou sua vida, indigno de seu lar e da comida que ela pagou. Essa dualidade, que mistura dor, orgulho ferido e uma notável inteligência emocional (ou manipulação), é a assinatura de Noel Rosa.
A gravação mais famosa é, sem dúvida, a interpretação de Aracy de Almeida, a quem Noel dedicou muitas de suas músicas e que se tornou a grande divulgadora de seu legado. Sua voz e interpretação capturam perfeitamente a sutileza e a profundidade dessa despedida agridoce, solidificando “Último Desejo” como um dos grandes clássicos da música popular brasileira e um dos momentos mais brilhantes da obra de Noel Rosa.
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