Sinhá Ritinha
Letra
No mês de maio, Nos tempos da ladainha, Foi que eu vi Sinhá Ritinha Sobrinha de Nhô Vigário Pra Zé Sampaio Ela olhou desconfiada Tava tão encabulada Que caiu o seu rosário.Ele apanhou O rosário da caboca Mas a coragem era pouca Pra fala com a mulé Depois pensou E pra não perder a vaza Guardou o rosário em casa Pra dá quando Deus quisé.Já fez dois anos Que ele não vai à capela Mas leva o rosário dela Pro todo logá que fô Não foi engano O que disse toda a gente Que a sodade de repente Tinha virado em amôE o Zé Sampaio Foi-se embora lá pro Norte Pois teve a pio da sorte Que se pode imagina No Mês de maio Quando vortô à capela Pra entrega o rosário dela Ela não quis aceita.
História da Canção
"Sinhá Ritinha" é mais um exemplo da genialidade de Noel Rosa em tecer crônicas musicais do cotidiano carioca, mesmo que a narrativa aqui sugira um ambiente mais interiorano ou provinciano com a menção de "Nhô Vigário" e "ladainha". Lançada em 1933, a canção apresenta uma história singela, mas carregada de emoção e um desfecho agridoce, característica marcante da obra de Noel.
A letra descreve o encontro de Zé Sampaio com Sinhá Ritinha, sobrinha do vigário, durante um mês de maio. A timidez mútua é palpável: ela "encabulada" deixa cair o rosário, e ele, "com a coragem pouca", não consegue falar com ela. A decisão de Zé de guardar o rosário "pra dá quando Deus quisé" é um ato de esperança e paciência, um símbolo do amor que começa a germinar.
A passagem do tempo é crucial na narrativa. "Já fez dois anos" e a "sodade" (saudade) de Zé Sampaio transforma-se em "amô" (amor), levando-o a carregar o rosário dela para todo lugar, uma prova de sua devoção silenciosa. No entanto, a vida, como Noel frequentemente retratava, não é um conto de fadas. Zé Sampaio enfrenta a "pio da sorte" (pior da sorte), sendo forçado a ir para o Norte. Seu retorno à capela, no mesmo mês de maio, com a intenção de finalmente entregar o rosário e declarar seu amor, encontra um fim melancólico: "Ela não quis aceita."
A canção é um retrato tocante do amor não correspondido, da paciência que não encontra recompensa e dos caprichos do destino. A linguagem popular, com termos como "caboca", "mulé", "vaza" e "vortô", reforça a autenticidade e a proximidade com o povo, uma marca registrada de Noel Rosa que sabia como ninguém traduzir a alma brasileira em versos e melodia.
Tópicos Relacionados
Conheça outras obras
Mais crônicas e versos do Poeta da Vila o aguardam no acervo.
Explorar o Acervo Completo