Composição de Década de 1930 (Hipótese)

Saí do presídio

Letra

Saí agora mesmo do presídio
E já cumpri a pena de homicídio
Do qual não fui autor!
(Meu Deus do céu, que horror!)
(Lá dentro faz calor!)Nas grades da prisão, eu já sabia
Que o nosso grande amor, você traía
Eu aturei suas afrontas
Mas, vou acertar nossas contas!Você foi má
Nunca mais conseguirá
Calcular a imensa dor
Mas, vai ter sempre na lembrança
Que o prazer de uma vingançaÉ maior do que qualquer amor
Não esqueci a ingratidão!
E resolvi acabar com o meu grande mal
Se o meu plano não falhar
A assistência vai levar
Seu esqueleto ao hospital

História da Canção

Como especialista na obra de Noel Rosa, é fundamental contextualizar esta letra. A primeira observação importante é que, até onde se sabe pelos registros históricos e discográficos, a canção 'Saí do Presídio' com esta letra explícita e direta sobre vingança e homicídio não faz parte do repertório conhecido e atribuído a Noel Rosa.

Noel, o 'Filósofo do Samba', era mestre em abordar temas do cotidiano carioca, amores e desamores, malandragem, crítica social e a boemia, mas sempre com sua característica ironia fina, sarcasmo sutil ou uma melancolia elegante. Suas letras sobre traição, como em 'Com Que Roupa?' ou 'Palpite Infeliz', frequentemente carregavam um tom de lamento, resignação irônica ou uma crítica velada, mas raramente a violência explícita e o desejo de vingança tão gráficos quanto os expressos em 'Saí do Presídio'.

Analisando a letra fornecida, vemos um narrador que acaba de sair da prisão, alegando inocência em um crime de homicídio. Ele revela ter descoberto a traição da amada e agora planeja uma vingança brutal, prometendo que 'o prazer de uma vingança é maior do que qualquer amor' e que o 'esqueleto' dela irá ao hospital. Este enredo de traição e vingança sangrenta, embora presente em outros gêneros populares da época (como os 'sambas-tragédia' ou canções de seresta com temas dramáticos), difere substancialmente do estilo lírico de Noel Rosa.

Se esta canção hipoteticamente tivesse surgido na década de 1930, período de efervescência do samba carioca e da produção de Noel, ela se destacaria pela crueza de seu tema e linguagem. Enquanto Noel explorava a malandragem com um olhar que misturava crítica e admiração, e o amor com complexidade e um toque de humor agridoce, esta letra apresenta uma perspectiva mais sombria e visceral da experiência humana, focando na dor da traição e na determinação implacável pela retribuição. Seria uma peça atípica em seu cânone, talvez mais alinhada a uma vertente de samba mais dramática ou mesmo à narrativa de alguns contos populares da época, que exploravam o lado mais cru das paixões e crimes.

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