Prato fundo
Letra
Se como tanto Aprendi com a minha avó Na minha casa Só se come em prato fun-d-o-dóA minha mana Para esperar o almoço Come casca de banana Depois engole o caroço E o meu titio Faz vergonha a todo instante Foi ao circo com fastio E engoliu o elefanteA minha tia Já engoliu uma fruteira Estou vendo ainda o dia Que ela almoça a cozinheira E depois disso Leva sempre a dar palpite Toma chumbo derretido Para abrir o apetiteMeu bisavô Que era um índio botocudo Devorou a tribo inteira Com pajé, cacique e tudo E a minha avó Que comia à portuguesa Reduziu dois bois a pó E inda quis a sobremesa
História da Canção
“Prato Fundo”, composta por Noel Rosa em 1935, é um primor do seu humor singular e da sua capacidade de transformar o cotidiano em poesia cantada. Noel, conhecido como “O Poeta da Vila”, era um observador nato da vida carioca, e nesta canção, ele nos presenteia com uma sátira hilária e exagerada sobre o tema da gula e dos apetites vorazes de uma família fictícia.
A letra, com seu tom leve e bem-humorado, descreve uma série de personagens familiares, cada um com um apetite mais inusitado que o anterior: a avó que come em “prato fun-d-o-dó”, a mana que devora cascas de banana e caroços, o titio que “engoliu o elefante” no circo, a tia que já engoliu uma fruteira e ameaça comer a cozinheira, e o bisavô “índio botocudo” que “devorou a tribo inteira”. O clímax é alcançado com a avó, que, após reduzir “dois bois a pó”, ainda pede sobremesa.
Esta música é um excelente exemplo da veia cômica de Noel Rosa, que utilizava a hipérbole como ferramenta para criar imagens memoráveis e divertidas. Embora não carregue a mesma carga de crítica social ou o drama de sambas mais engajados, “Prato Fundo” reflete a genialidade de Noel em extrair o riso e a leveza das situações mais prosaicas, consolidando sua reputação não apenas como um grande melodista e letrista, mas também como um contador de histórias com um senso de humor afiadíssimo. A canção é um reflexo do ambiente de boemia e da efervescência cultural do Rio de Janeiro dos anos 1930, onde o samba e o choro reinavam absolutos.
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