Composição de 1933-1934 (Estimativa)

Pra Lá da Cidade

Letra

Lá, bem pra lá da cidade
Onde não cabe a vaidade
Foi que matei minha ilusão
E enterrei meu coração!Que ficou muito pra lá
Bem pra lá da cidade
Só cabe aquela saudade!
Que eu guardei com devoção
Longe daquela saudade
Me sinto feliz entãoLá, bem pra lá da cidade
Contrariando a vontade!
Eu te entreguei meu violão
E te deixei num barracão
Bem pra lá da cidade
Onde só há liberdade!
Para quem não sente paixão
Livre daquela amizade
Me sinto feliz então!

História da Canção

Embora "Pra Lá da Cidade" não figure entre os títulos mais conhecidos ou registrados oficialmente na vasta e rica obra de Noel Rosa, a letra que nos é apresentada carrega inegavelmente a essência melancólica e introspectiva que marcou parte significativa da produção do "Filósofo do Samba". Se esta canção tivesse sido composta por Noel, poderíamos situá-la por volta de 1933-1934, um período em que o compositor já havia consolidado seu estilo, explorando as nuances da alma carioca, o amor, a desilusão e a busca por um sentido em meio à efervescência urbana do Rio de Janeiro.

A canção é um mergulho na experiência de desapego e redescoberta. A decisão de ir "bem pra lá da cidade, onde não cabe a vaidade", é uma metáfora poderosa para o abandono das superficialidades e das dores de um relacionamento ou de uma amizade que se tornou um fardo. "Matei minha ilusão / E enterrei meu coração!" são versos que ecoam a resignação e a dor de um adeus definitivo, um gesto radical para alcançar a paz. O fato de deixar o violão – seu fiel companheiro e símbolo da boemia – e uma pessoa "num barracão" reforça a ideia de uma ruptura completa, uma busca por um refúgio onde "só há liberdade! Para quem não sente paixão".

Esta suposta canção de Noel se alinha perfeitamente com a capacidade do poeta de Vila Isabel de traduzir em samba os sentimentos mais íntimos e complexos. A aparente felicidade encontrada na liberdade ("Me sinto feliz então!") contrasta com a melancolia inerente ao ato de "enterrar o coração" e abandonar o violão, revelando a dualidade frequentemente presente em suas letras: a alegria e a dor caminhando lado a lado. Seria uma peça notável em seu repertório, ilustrando a maturidade lírica de um Noel que compreendia profundamente as ironias e as despedidas da vida.

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