Primeiro Amor

A letra de 'Primeiro Amor' apresenta uma faceta de Noel Rosa menos conhecida por sua usual sagacidade e ironia. Em comparação com suas composições mais célebres, repletas de crônicas do cotidiano carioca, malandragem e sátira social, 'Primeiro Amor' mergulha em uma melancolia direta e um lamento romântico sem grandes floreios.

Se esta fosse uma de suas obras, poderia ser conjecturada como uma canção dos primeiros anos de sua prolífica carreira, talvez um exercício inicial em temas de desilusão amorosa antes que ele lapidasse seu estilo único, caracterizado por jogos de palavras e observações aguçadas da sociedade. A simplicidade e a crueza do sentimento ('Jamais eu te darei perdão', 'Não perdoo, nem esqueço!') contrastam com a complexidade lírica de sambas como 'Com que roupa?' ou 'Fita Amarela'.

No entanto, a temática do amor não correspondido e da ingratidão era, sem dúvida, um veio comum na música popular brasileira da época, e mesmo Noel, em momentos de introspecção, poderia ter explorado essas dores de forma mais pessoal e menos 'observacional'. A ideia de que 'O mundo é bom professor / Que cobra caro a lição!' é uma reflexão universal, que se alinha com a profundidade filosófica que, por vezes, permeava suas letras, mesmo quando disfarçada de leveza. A canção reflete a persistência do juramento e a dificuldade de superar uma primeira grande desilusão.