Dama do cabaret
Letra
Foi num cabaré na Lapa Que eu conheci você Fumando cigarro, Entornando champanhe no seu soiréeDançamos um samba, Trocamos um tango por uma palestra Só saímos de lá meia hora Depois de descer a orquestraEm frente à porta um bom carro nos esperava Mas você se despediu e foi pra casa a pé No outro dia lá, nos Arcos eu andava À procura da Dama do CabaréEu não sei bem se chorei no momento em que lia A carta que recebi, não me lembro de quem Você nela me dizia que quem é da boemia Usa e abusa da diplomacia Mas não gosta de ninguémFoi num cabaré na Lapa...
História da Canção
Embora não seja uma composição oficialmente catalogada de Noel Rosa, a letra de "Dama do Cabaret" evoca com maestria o universo lírico e a atmosfera boêmia que o 'Poeta da Vila' tão bem retratava. Se fosse sua, esta canção seria um instantâneo vívido da Lapa carioca em seu auge, um cenário onde o amor e a melancolia se entrelaçavam sob as luzes dos cabarés.
A narrativa nos transporta para um encontro fortuito, típico das noites do Rio antigo. A cena, que começa com fumaça de cigarro e champanhe num sarau, é pura expressão do hedonismo elegante da época. A troca de passos de samba e tango por uma "palestra" adiciona um toque de sofisticação e mistério, sugerindo que, além da dança, havia uma conexão mais profunda, talvez intelectual, entre os personagens.
Noel, com sua aguda percepção dos costumes e dos tipos humanos, teria encontrado na "Dama do Cabaret" uma personagem complexa: a mulher livre e independente que, mesmo cercada pelo glamour e pela atenção, mantém uma distância emocional. A busca subsequente nos Arcos da Lapa, um dos cartões-postais da boemia, reforça o anseio do eu-lírico por uma continuidade que, no mundo da noite, raramente se concretizava.
O clímax da canção reside na carta, um dispositivo narrativo que Noel usava para revelar verdades amargas. Nela, a Dama expõe a filosofia do boêmio, que "usa e abusa da diplomacia, mas não gosta de ninguém". Esta frase encapsula a ironia e o ceticismo que permeavam muitas das relações noturnas, onde a paixão era efêmera e o desapego, uma estratégia de sobrevivência. É uma lição cruel, mas realista, sobre a impermanência dos afetos num ambiente onde as regras do coração eram frequentemente subvertidas pelas regras da sobrevivência e da efemeridade. A melodia, se existisse, certamente teria o balanço do samba-choro, ora brincalhão, ora reflexivo, que era a marca registrada de Noel.
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