Composição de 1934

Pesado 13

Letra

Num quarto solitário
Na Rua do Rosário
Com um 13 bem na porta
Um turco lá morou
Disse o seu Patrício
Que ele morreu no hospício
E cheio de aflição
Porque engoliu um tostãoO seu nome era Rachid
Abdula ou Farid
Nascido na Turquia
Criado na Bahia
Ele era prestamista e vigarista!
Nunca perdeu de vista
O bolso de ninguém
Por causa de um vintémSeu quarto todo escrito
Com contas há somar
E de multiplicar
Não tinha dividir
E por economia
Pra não gastar seu sangue
Com as pulgas já famintas
Ficava sem dormirEm uma caixa escrita
Deixava como herança
Ao filho ainda criança
As contas por cobrar
Ele era precavido
Pro caixão ser pequeno
Morreu bem decidido
De cócoras, encolhidoE o pesado 13
Em uma sexta-feira
Também num dia 13
Faz hoje quase um ano
Que teve o intestino
Por choque fraturado
Pois foi atropelado
Por um aeroplanoNum dia em que um amigo
Ao lhe pedir abrigo
Ao ver aberta a porta
Quase morreu de horror
Pois viu por sobre a cama
O terno de Farid
E viu dependurado
Abdula num cabide

História da Canção

“Pesado 13” é uma das composições mais curiosas e marcantes de Noel Rosa, revelando seu talento para o humor negro e a observação minuciosa de tipos urbanos. A letra, que narra a história do misterioso Rachid, Abdula ou Farid, um turco prestamista e vigarista, é um verdadeiro retrato do Rio de Janeiro da década de 1930, onde figuras excêntricas circulavam pelas ruas.

A canção é notável pela riqueza de detalhes e pela construção de um personagem que beira o cômico e o trágico. Rachid, residente na Rua do Rosário, é descrito como um avarento que “nunca perdeu de vista o bolso de ninguém por causa de um vintém”. Sua morte, uma série de eventos absurdos culminando em um atropelamento por um aeroplano e, posteriormente, seu corpo dependurado, transforma a narrativa em uma anedota macabra. A obsessão com o número 13, considerado de mau agouro, permeia a canção, desde o número na porta de seu quarto até a data de sua morte, adicionando uma camada de superstição e fatalismo à história.

Noel Rosa, com sua genialidade, transforma a vida e a morte desse personagem em uma crônica social que, ao mesmo tempo que diverte, tece críticas sutis à avareza e à marginalidade financeira. A imagem do quarto com contas por somar e multiplicar, mas sem dividir, e a herança deixada em uma caixa, são pinceladas de ironia que caracterizam o estilo único do Poeta da Vila. A música é um excelente exemplo de como Noel conseguia extrair poesia e humor das situações mais inusitadas do cotidiano carioca.

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