Pesado 13
Letra
Num quarto solitário Na Rua do Rosário Com um 13 bem na porta Um turco lá morou Disse o seu Patrício Que ele morreu no hospício E cheio de aflição Porque engoliu um tostãoO seu nome era Rachid Abdula ou Farid Nascido na Turquia Criado na Bahia Ele era prestamista e vigarista! Nunca perdeu de vista O bolso de ninguém Por causa de um vintémSeu quarto todo escrito Com contas há somar E de multiplicar Não tinha dividir E por economia Pra não gastar seu sangue Com as pulgas já famintas Ficava sem dormirEm uma caixa escrita Deixava como herança Ao filho ainda criança As contas por cobrar Ele era precavido Pro caixão ser pequeno Morreu bem decidido De cócoras, encolhidoE o pesado 13 Em uma sexta-feira Também num dia 13 Faz hoje quase um ano Que teve o intestino Por choque fraturado Pois foi atropelado Por um aeroplanoNum dia em que um amigo Ao lhe pedir abrigo Ao ver aberta a porta Quase morreu de horror Pois viu por sobre a cama O terno de Farid E viu dependurado Abdula num cabide
História da Canção
“Pesado 13” é uma das composições mais curiosas e marcantes de Noel Rosa, revelando seu talento para o humor negro e a observação minuciosa de tipos urbanos. A letra, que narra a história do misterioso Rachid, Abdula ou Farid, um turco prestamista e vigarista, é um verdadeiro retrato do Rio de Janeiro da década de 1930, onde figuras excêntricas circulavam pelas ruas.
A canção é notável pela riqueza de detalhes e pela construção de um personagem que beira o cômico e o trágico. Rachid, residente na Rua do Rosário, é descrito como um avarento que “nunca perdeu de vista o bolso de ninguém por causa de um vintém”. Sua morte, uma série de eventos absurdos culminando em um atropelamento por um aeroplano e, posteriormente, seu corpo dependurado, transforma a narrativa em uma anedota macabra. A obsessão com o número 13, considerado de mau agouro, permeia a canção, desde o número na porta de seu quarto até a data de sua morte, adicionando uma camada de superstição e fatalismo à história.
Noel Rosa, com sua genialidade, transforma a vida e a morte desse personagem em uma crônica social que, ao mesmo tempo que diverte, tece críticas sutis à avareza e à marginalidade financeira. A imagem do quarto com contas por somar e multiplicar, mas sem dividir, e a herança deixada em uma caixa, são pinceladas de ironia que caracterizam o estilo único do Poeta da Vila. A música é um excelente exemplo de como Noel conseguia extrair poesia e humor das situações mais inusitadas do cotidiano carioca.
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