De babado
Letra
De babado, sim Meu amor ideal Sem babado, nãoSeu vestido de babado Que é de fato alta-costura Me fez sábado passado Ir a pé a Cascadura (E voltei de cara-dura!)De babado, sim Meu amor ideal Sem babado, nãoCom um vestido de babado Que eu comprei lá em Paris Eu sambei num batizado Não dei palpite infeliz (Você não viu porque não quis!)De babado, sim Meu amor ideal Sem babado, não Quando eu ando a seu lado Você sobe de valor Seu vestido sem babado É você sem meu amor (É assistência sem doutor!)De babado, sim Meu amor ideal Sem babado, não Quando andei pela Bahia Pesquei muito tubarão Mas pesquei um bicho um dia Que comeu a embarcação (Não era peixe, era dragão!)De babado, sim Meu amor ideal Sem babado, nãoBrasileiro diz meu bem E francês diz "mon amour" Você diz: Vale quem tem Muito dinheiro pra pagar meu "point-à-jo" (Eu ando sem "I'argent toujours!" )De babado, sim Meu amor ideal Sem babado, nãoVou buscar um copo d'água Pra dar à minha avó Não vou de bonde porque tenho mágoa Não vou a pé porque você tem dó (Vamos comprar o Mossoró!)De cavalo, sim Meu amor ideal Sem cavalo, não (Mas o cavalo de babado)
História da Canção
"De Babado", um samba de Noel Rosa e Frazão, é uma obra-prima da ironia e da observação social tão características do Poeta da Vila. Lançada por volta de 1935, a canção utiliza o tema aparentemente trivial de um vestido de babado como pano de fundo para tecer comentários perspicazes sobre a moda, as aparências e as aspirações sociais do Rio de Janeiro da época.
Noel, com seu humor mordaz, brinca com a ideia de que o valor de uma pessoa pode ser inflacionado pela roupa ("Quando eu ando a seu lado / Você sobe de valor"). Ele contrasta a "alta-costura" francesa com a realidade de ter que ir a pé a Cascadura e voltar "de cara-dura", mostrando a disparidade entre a imagem e a condição financeira real.
A letra é recheada de referências inteligentes, como o uso de expressões francesas ("mon amour", "point-à-jo", "I'argent toujours") para satirizar o snobismo e a busca por um status social elevado, muitas vezes ligado à ostentação de bens estrangeiros. A frase "Você diz: Vale quem tem / Muito dinheiro pra pagar meu 'point-à-jo'" é um claro lamento e uma crítica direta ao materialismo que permeava certas camadas da sociedade.
As divagações de Noel sobre pescar tubarões na Bahia e "um bicho um dia / Que comeu a embarcação" (não era peixe, era dragão!) adicionam um toque de surrealismo e brincadeira, típicos de seu estilo. O desfecho com "Vamos comprar o Mossoró!" e a menção final ao "cavalo de babado" reforçam a natureza lúdica e, ao mesmo tempo, crítica da canção.
"De Babado" é mais do que um samba sobre moda; é um retrato vívido da alma carioca, que entrelaça o humor, a crítica e a melancolia, revelando a genialidade de Noel Rosa em transformar o cotidiano em poesia e reflexão social.
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