Perna Bamba
Letra
Olha que este samba Põe as perna bamba Quem nele entra Não que mais para Conheço um véio Todo cheio de besteira Num gosta de brincadeira E é ranzinza que é danado Mas, ele um dia Entro num samba de arrelia Que esqueceu-se da famia Fico logo avacaiadoUm cabra torto Com doença nas espinha Num havia mais meizinha Que pudesse indireitá Ouviu o samba Levantou-se de repente Já num tava mais doente Já queria inté brigá Uma muié tinha brigado com o marido Fez tamanho alarido Lhe tirô todo o sossego Mas, ele um dia Foi o samba decorando Entro em casa cantando E vorto logo o chamego
História da Canção
Embora 'Perna Bamba' não figure entre as composições mais celebradas e amplamente conhecidas da vasta obra de Noel Rosa, sua letra, se analisada sob a ótica do Poeta da Vila, oferece uma rica perspectiva sobre o poder transformador do samba no cotidiano carioca dos anos 30.
Noel, um observador arguto da alma suburbana e boêmia, frequentemente explorava em suas canções o impacto do samba na vida das pessoas comuns. Em 'Perna Bamba', vemos essa temática de forma vívida: o samba não é apenas música, mas uma força vital capaz de curar males do corpo e da alma, dissipar a tristeza e restaurar a harmonia. A ideia de que o samba 'põe as perna bamba' é uma metáfora para o seu efeito inebriante e irresistível, que convida à entrega total.
A narrativa poética descreve personagens que poderiam facilmente povoar as crônicas do Rio de Noel: o velho rabugento que, ao entrar num 'samba de arrelia', se entrega e 'fica logo avacaiado'; o cabra torto 'com doença nas espinha' que, ao ouvir o ritmo, 'levantou-se de repente' e esquece a enfermidade; e a mulher que, após uma briga conjugal, encontra na melodia do samba o caminho para a reconciliação e 'vorta logo o chamego'.
Essa capacidade do samba de 'avacaiar' (no sentido de descontrair), de 'indireitá' (curar, endireitar) e de 'vortar o chamego' (restaurar o afeto) é um testemunho da crença popular na potência libertadora da melodia e do ritmo. O estilo da letra, com seu vocabulário coloquial e direto ('véio', 'besteira', 'meizinha', 'muié', 'vorto'), reflete a linguagem do povo, característica que Noel dominava com maestria, transpondo para suas composições a fala das ruas de Vila Isabel e Lapa. 'Perna Bamba' seria, assim, mais uma pérola que reforça a visão de Noel sobre o samba como um elemento integrador, capaz de quebrar barreiras sociais e emocionais, celebrando a alegria contagiante da cultura popular brasileira em uma época de grandes transformações sociais e culturais no Rio de Janeiro.
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