Composição de 1935

Capricho de mulher

Letra

Nunca mais esta mulher
Me vê trabalhando!
Quem vive sambando
Leva a vida para o lado que quer!De fome não se morre
Neste Rio de Janeiro!
Ser malandro é um capricho
De rapaz solteiroA mulher é um achado
Que nos perde e nos atrasa
Não há malandro casado
Pois malandro não se casaCom a bossa que eu tiver
Orgulhoso vou gritando
"Nunca mais esta mulher!"
"Nunca mais esta mulher"
"Me vê trabalhando!"Antes de descer ao fundo
Perguntei ao escafandro
Se o mar é mais profundo
Que as ideias do malandroVou, enquanto eu puder
Meu capricho sustentando
Nunca mais esta mulher
Nunca mais esta mulher
Me vê trabalhandoA vida é de quem
Sabe se esquivar
Dos espertos, dos peixes
Que não caem em rede!Muito mais que a canoa
O malandro em terra joga!
A canoa afunda à toa
Ele vira e não se afoga

História da Canção

Composta por Noel Rosa em 1935, "Capricho de Mulher" é uma das obras mais emblemáticas do Poeta da Vila, servindo como um manifesto da filosofia do malandro carioca. A letra, carregada de ironia e um certo orgulho boêmio, explora a figura do homem avesso ao trabalho convencional e ao casamento, especialmente quando vistos como imposições ou consequências da influência feminina.

A canção abre com uma declaração contundente: "Nunca mais esta mulher / Me vê trabalhando!", estabelecendo o tom de independência e aversão às amarras. Noel Rosa descreve o malandro como alguém que vive "sambando", levando a vida "para o lado que quer", reforçando a ideia de que a boemia e a sagacidade são suficientes para sobreviver no Rio de Janeiro da década de 1930: "De fome não se morre / Neste Rio de Janeiro! / Ser malandro é um capricho / De rapaz solteiro".

Um dos pontos centrais da música é a visão do malandro sobre a mulher e o casamento. Noel afirma que "A mulher é um achado / Que nos perde e nos atrasa / Não há malandro casado / Pois malandro não se casa". Essa passagem sublinha a percepção de que o compromisso conjugal é incompatível com a liberdade e o "capricho" do malandro, que valoriza sua autonomia acima de tudo.

A inteligência e a resiliência do malandro são enaltecidas em versos como "Se o mar é mais profundo / Que as ideias do malandro" e "A canoa afunda à toa / Ele vira e não se afoga", demonstrando a astúcia e a capacidade de adaptação para navegar pelas adversidades da vida sem perder a pose. "Capricho de Mulher" não é apenas uma crítica aos papéis sociais da época, mas uma celebração da identidade malandra, que Noel Rosa tão bem soube retratar em sua obra, tornando-a um valioso documento histórico e cultural do samba e do cotidiano carioca.

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