Palpite infeliz

"Palpite Infeliz" é uma das obras mais emblemáticas de Noel Rosa, marcando um dos capítulos mais famosos da história da Música Popular Brasileira: a lendária polêmica com Wilson Batista. A disputa, que se estendeu por diversos sambas na década de 1930, girava em torno de ideais sobre o malandro, a malandragem e a autenticidade do samba.

A controvérsia começou com Wilson Batista, que em sua canção "Lenço no Pescoço" (1933), glorificava a figura do malandro tradicional. Noel Rosa, representante da boemia e da intelectualidade de Vila Isabel, respondeu com "Rapaz Folgado" (também de 1933), criticando o ócio e a falta de utilidade do malandro, propondo uma visão mais 'moderna' e trabalhadora para o sambista. Wilson retrucou com "Moça Bamba".

"Palpite Infeliz" é a réplica definitiva de Noel Rosa à visão de Wilson Batista e àqueles que criticavam sua Vila Isabel. A letra é um ataque direto e sarcástico: "Quem é você que não sabe o que diz? Meu Deus do Céu, que palpite infeliz!". Noel defende com veemência a sua escola e seu bairro, afirmando que "A Vila Não quer abafar ninguém, Só quer mostrar que faz samba também" e que "A Vila é uma cidade independente Que tira samba mas não quer tirar patente". Ele até reconhece outras agremiações (Estácio, Salgueiro, Mangueira, Oswaldo Cruz e Matriz), mas reforça o valor e a autonomia de Vila Isabel na criação de samba. Essa música não só consolidou a reputação de Noel como um letrista sagaz, mas também se tornou um hino de defesa da identidade do samba de Vila Isabel.