Nos Três Dias de Folia

“Nos Três Dias de Folia” é um samba que encapsula perfeitamente a genialidade de Noel Rosa em sua observação do espírito carioca e da condição humana. Lançada em 1935, a canção surge em um período de intensa produção do Poeta da Vila, já consolidado como um dos maiores letristas e compositores do Brasil.

A letra, com sua aparente simplicidade, revela uma profundidade melancólica característica de Noel. Ele aborda o tema do Carnaval, não como um mero período de exaltação e alegria desmedida, mas como um palco para a encenação de sentimentos. O eu-lírico se vê forçado a “fingir alegria” para “esquecer meu grande amor” e “esconder meu desgosto”. É um retrato pungente da dor que se traveste de folia, um artifício que muitos usavam – e ainda usam – para mascarar suas aflições pessoais diante da obrigação social de festejar.

Noel Rosa era um mestre em explorar a dualidade da vida carioca: a boemia e a solidão, a alegria e a tristeza. Nesta canção, ele subverte a imagem tradicional do folião despreocupado, mostrando o lado introspectivo e sofredor por trás da fantasia. A frase “Fantasiei-me a meu gosto / E fantasiei a minha dor” é um golpe de mestre, indicando que a própria dor se torna parte do disfarce carnavalesco. A obra é um testemunho da capacidade de Noel de traduzir experiências emocionais complexas em sambas que ressoam até hoje.