Composição de 1934

Maria fumaça

Letra

Maria Fumaça
Fumava cachimbo, bebia cachaça...
Maria Fumaça
Fazia arruaça, quebrava vidraça
E só de pirraça
Matava as galinhas de suas vizinhas
Maria Fumaça
Só achava graça na própria desgraçaDez vezes por dia a delegacia
Mandava um soldado prender a Maria
Mas quando se via na frente do praça
Maria sumia tal qual a fumaçaMaria Fumaça
Não diz mais chalaça, não faz mais trapaça...
Somente ameaça que acaba com a raça
Bebendo potassa
Perdeu o rompante
Foi presa em flagrante roubando um baralho
Não faz mais conflito
Está no distrito lavando o assoalho

História da Canção

"Maria Fumaça" é mais um exemplo da genialidade de Noel Rosa em capturar e satirizar tipos e situações do cotidiano carioca dos anos 1930. A canção, lançada por volta de 1934, apresenta uma personagem feminina singular e irreverente, que desafia as convenções sociais com sua conduta desregrada.

A "Maria Fumaça" do título não é um trem, mas uma mulher que encarna a figura da desordeira, da "arruaceira" que fumava, bebia, causava confusão e, metaforicamente, "matava as galinhas de suas vizinhas". Noel a descreve com um humor perspicaz, mostrando sua impunidade inicial ao escapar das mãos da polícia "tal qual a fumaça". Essa parte da letra pinta um quadro vívido da boemia e da marginalidade do Rio de Janeiro da época, onde figuras excêntricas e fora da lei eram tanto temidas quanto parte do folclore urbano.

Contudo, a música toma um rumo irônico na segunda parte. A personagem, antes indomável, é finalmente capturada e submetida à ordem social: "Foi presa em flagrante roubando um baralho / Está no distrito lavando o assoalho". Essa transformação, de figura rebelde a servidora da justiça (ainda que por punição), é um toque de sarcasmo típico de Noel Rosa. Ele sublinha a forma como a sociedade tenta "domar" ou "reabilitar" aqueles que fogem à norma, muitas vezes de maneira abrupta e despojada de sua originalidade.

A canção, portanto, vai além da simples anedota. É uma crítica social velada sobre a liberdade individual versus o controle institucional, tudo embalado na melodia e na poesia característica do "Filósofo do Samba".

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