Composição de 1930

Mulato Bamba

Letra

Esse mulato forte é do Salgueiro
Passear no tintureiro
É o seu esporte
Já nasceu com sorte
E desde pirralho
Vive às custas do baralho
Nunca viu trabalhoE quando tira um samba
É novidade
Quer no morro ou na cidade
Ele sempre foi o bamba
As morenas do lugar
Vivem a se lamentar
Por saber que ele não quer
Se apaixonar por mulherO mulato
É de fato
E sabe fazer frente
A qualquer valente
Mas não quer saber de fita
Nem com mulher bonita
Sei que ele anda agora aborrecido
Por que vive perseguido
Sempre; a toda hora
Ele vai-se embora
Para se livrar
Do feitiço e do azar
Das morenas de láEu sei que o morro inteiro
Vai sentir
Quando o mulato partir
Dando adeus para o Salgueiro
As morenas vão chorar
Vão pedir pra ele voltar
E ele não diz com desdém
Quem tudo quer, nada tem

História da Canção

"Mulato Bamba" é uma das canções emblemáticas de Noel Rosa que imortaliza a figura do malandro carioca dos anos 1930. Lançada em uma época de efervescência cultural e social no Rio de Janeiro, a música de Noel não apenas retrata, mas também tece um comentário sutil e irônico sobre esse personagem tão característico do samba e da paisagem urbana da época.

A letra descreve um mulato forte, oriundo do Salgueiro, que personifica a vida boêmia e o descompromisso com o trabalho: "Vive às custas do baralho / Nunca viu trabalho". Curiosamente, mesmo com essa aversão ao labor, ele é um "bamba" no samba e "faz frente a qualquer valente", demonstrando a dualidade e a complexidade do malandro – um indivíduo admirado por sua astúcia e talento no samba, mas criticado por sua ociosidade.

A canção também aborda o desapego emocional do personagem, que "não quer se apaixonar por mulher" e "não quer saber de fita", refletindo uma faceta da malandragem que valorizava a liberdade acima de tudo. A referência ao fato de ele andar "aborrecido" e "perseguido" pode ser interpretada como a inevitável consequência de uma vida sem raízes ou, metaforicamente, o fardo das atenções indesejadas ou das exigências da sociedade.

O desfecho, com o mulato indo embora e a melancolia da partida ("As morenas vão chorar / Vão pedir pra ele voltar"), culmina com a reflexão moral: "Quem tudo quer, nada tem". Esta frase encerra a narrativa com uma crítica ao estilo de vida do malandro, sugerindo que a busca incessante por liberdade e a recusa de compromissos podem, no fim, levar à solidão ou a uma existência vazia. Noel Rosa, com sua genialidade, captura a alma do Rio antigo, transformando a observação do cotidiano em poesia e crítica social.

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