Morena e Loura
Letra
Essa morena Que meu coração devassa Simboliza a nossa raça Cor de leite com caféEssa lourinha Nunca foi nem é meu tipo Perto dela me constipo De tão fria que ela é!Esta morena Que eu amo imensamente Ficará indiferente Se souber que eu ando assim!Na minha sorte Há um golpe que eu receio A lourinha que eu odeio É quem gosta mais de mim!
História da Canção
“Morena e Loura”, de Noel Rosa, é uma pérola da composição brasileira que exemplifica a maestria do Poeta da Vila em tecer narrativas complexas com simplicidade e um toque inconfundível de ironia. Lançada em 1932, a canção surge num período efervescente da cultura brasileira, onde a identidade nacional e a valorização do elemento mestiço — a 'morena' — ganhavam força, especialmente no samba.
A letra constrói um contraste explícito: de um lado, a morena, que “simboliza a nossa raça / Cor de leite com café”, exaltada como objeto de profundo desejo e amor. Ela representa o calor, a brasilidade, a alma do povo. Do outro, a loura, descrita de forma quase pejorativa, fria e distante, um tipo que “nunca foi nem é meu tipo”. Essa dualidade não é apenas uma questão de preferência pessoal; ela ecoa, sutilmente, debates culturais da época sobre o ideal de beleza e identidade no Brasil.
A genialidade de Noel se revela na reviravolta do último verso: “Na minha sorte / Há um golpe que eu receio / A lourinha que eu odeio / É quem gosta mais de mim!” Essa confissão irônica e quase cínica é a assinatura de Noel, que frequentemente explorava as incongruências e as tragédias cômicas do amor e da vida cotidiana. O protagonista se vê preso em um paradoxo: seu amor ideal é indiferente, enquanto seu desdém é correspondido, revelando a complexidade e, por vezes, a crueldade dos sentimentos humanos. A música não apenas descreve um dilema amoroso, mas o faz com um humor agridoce que se tornou marca registrada do compositor, capturando a essência da boemia carioca e da alma brasileira da época.
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