Já não posso mais
Letra
Adeus, mulher fingida Eu já vou-me embora Tu estás arrependida Já não posso mais Deus me perdoe pelo que fiz Deixando abandonada Aquela pobre infelizO teu mau procedimento Fez meu coração sofrer E teu arrependimento Não me pôde comoverTu encheste meus ouvidos Com frases de ocasião Nem sempre os arrependidos Nos merecem o perdão. (Agora)Se tu fosses processada Diante de um auditório Tu ficavas bem calada Pois tens culpa no cartórioHá bastantes testemunhas Do que fui e do que sou Quando me botaste as unhas Meu dinheiro se pirou. (Por quê?)
História da Canção
Noel Rosa (1910-1937), o "Poeta da Vila", foi um observador sagaz da vida carioca e mestre na arte do samba-canção. Sua obra é um espelho das relações humanas, dos costumes e das ironias do cotidiano do Rio de Janeiro da década de 1930.
A canção "Já Não Posso Mais" é um exemplo brilhante da capacidade de Noel de transformar uma experiência pessoal de desilusão em uma narrativa universal, temperada com seu inconfundível humor ácido e inteligência lírica. A letra, que narra o adeus a uma "mulher fingida" cujo arrependimento chega tarde demais, é um retrato vívido da complexidade dos relacionamentos boêmios da época.
Noel inverte a situação, fazendo o narrador assumir uma postura de quem já superou a dor e agora se recusa a ser comovido, mesmo diante das lágrimas da mulher. Frases como "Nem sempre os arrependidos / Nos merecem o perdão" e a clássica "Tu ficavas bem calada / Pois tens culpa no cartório" demonstram a sagacidade e a capacidade do compositor de usar a linguagem popular para expressar a crítica e a desilusão de forma contundente.
O aspecto financeiro, comum em muitas de suas canções, também aparece de forma direta e sem rodeios: "Quando me botaste as unhas / Meu dinheiro se pirou". Esta linha sublinha uma das facetas das relações amorosas na época, onde a busca por segurança ou mesmo a exploração econômica podia se misturar aos sentimentos. A música, portanto, transcende a mera despedida amorosa, tornando-se um comentário sobre a malandragem, a ingenuidade e as consequências das escolhas, tudo isso embalado pelo ritmo e a melancolia disfarçada do samba.
Tópicos Relacionados
Conheça outras obras
Mais crônicas e versos do Poeta da Vila o aguardam no acervo.
Explorar o Acervo Completo