Fiquei rachando lenha
Letra
O meu amor chorou Porque não fui à Penha Fiquei rachando lenha No ano que passouMeu amor chorou Mas não lhe dei razão Vem primeiro a obrigação E depois a devoçãoNão há obrigação Que faça te esquecer Ela só me faz perder Os momentos de prazerEu trabalhei demais Por ter necessidade De ter ouro em quantidade Pra comprar comodidadeNo ano que passou Não pude ir à Penha Meu amor se me desdenha Quer comprar a minha lenha
História da Canção
Em 1934, Noel Rosa, o Poeta da Vila, nos brindava com "Fiquei Rachando Lenha", um samba que, à primeira vista, pode soar como uma desculpa trivial por faltar a um passeio, mas que, na realidade, é um mergulho profundo nas inquietações econômicas e sociais do Brasil pós-crise de 1929. A expressão "rachar lenha" é uma metáfora poderosa para o trabalho árduo e a luta diária pela subsistência, uma realidade para muitos brasileiros na efervescência do governo Vargas.
A canção narra a história de um amor que chorou por não ter sido levado à Penha, um tradicional ponto de peregrinação e lazer no Rio de Janeiro, especialmente popular nos fins de semana e feriados. Contudo, o eu-lírico justifica sua ausência com a prioridade da obrigação sobre a devoção – o trabalho pesado para "ter ouro em quantidade / Pra comprar comodidade". Este trecho é emblemático da busca por uma vida digna em tempos de dificuldade, onde o lazer e os afetos ficavam em segundo plano diante da necessidade material.
A ironia atinge seu ápice nos versos finais: "Meu amor se me desdenha / Quer comprar a minha lenha". A amada, ao invés de compreender a labuta, parece interessada no fruto desse trabalho, sugerindo uma materialização das relações e uma crítica sutil àqueles que não valorizavam o esforço em si, mas apenas a riqueza que ele poderia gerar. Noel, com sua sagacidade habitual, transforma uma cena cotidiana em um comentário agudo sobre a economia, o amor e as prioridades de uma sociedade em transformação, sempre com a melancolia disfarçada em um sorriso cínico.
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