Finaleto
Letra
Helena, linda flor de Cascadura Escravo sou da tua formosura Por ti serei poeta e trovador Eu dou a vida pelo teu amorMeu belo condutor de Cascadura Bancaste muitas vezes cara-dura Por ti fujo da casa do meu pai E vou casar contigo no UruguaiBem que eu desconfiei de ti, sabido, Mas a meu pai eu nunca dei ouvido Juro pelos níqueis que você matou Que não há pai mais mole do que eu souHelena, anjo de candura Helena, flor de Cascadura...Eu fui a noiva de um condutor Prefiro um bobo rico a um doutor Barbosa é um grande milionário Já sabe que nasceu pra ser otário Faz tudo por seu filho Joaquim No mundo não existe sogro assimNós vamos ter mobília primorosa Oferta grandiosa de Barbosa As jóias ele vai nos dar depois Por isso, viva Deus e chova arroz!
História da Canção
"Finaleto" é a sequência final da opereta em um ato "A Noiva do Condutor", uma colaboração entre Noel Rosa e Ary Barroso, encenada pela primeira vez em 1930 no Teatro Recreio. Esta peça satírica marcou um momento importante na carreira inicial de Noel, evidenciando seu talento não apenas como compositor de sambas, mas também como letrista e dramaturgo.
A trama de "A Noiva do Condutor" gira em torno de Helena, uma jovem que se vê dividida entre dois pretendentes: o charmoso, porém sem recursos, Condutor de Cascadura e o filho de um milionário. No "Finaleto", a ironia de Noel Rosa atinge seu ápice. A letra expõe o dilema de Helena, que inicialmente declara seu amor e intenção de fugir com o Condutor ("Por ti fujo da casa do meu pai / E vou casar contigo no Uruguai"). Contudo, a virada é rápida e mordaz. Helena revela sua verdadeira intenção, descartando o Condutor ("Bem que eu desconfiei de ti, sabido") e preferindo a segurança financeira a um amor idealizado. Ela opta por casar-se com o filho de Barbosa (Joaquim), um "milionário" que, embora possa ser um "otário", garante uma vida de luxo e facilidades, com "mobília primorosa" e "jóias".
A peça é uma crítica contundente ao materialismo e à hipocrisia das relações sociais da época no Rio de Janeiro, onde o dinheiro muitas vezes falava mais alto que o amor ou a integridade. Noel, com sua sagacidade característica, desmascara a superficialidade de certos arranjos matrimoniais e a busca por status. A colaboração com Ary Barroso para esta opereta é um exemplo da efervescência cultural e da capacidade de Noel de transitar entre diferentes gêneros, sempre com um olhar afiado sobre o comportamento humano e a sociedade carioca dos anos 30.
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