Coisas do sertão

'Coisas do Sertão' se destaca na vasta e rica obra de Noel Rosa por uma particularidade fundamental: é uma de suas raras e belas composições instrumentais. Enquanto o 'Poeta da Vila' ficou eternizado por suas letras geniais que retratavam com maestria o cotidiano carioca, a malandragem, o amor e a crítica social, esta peça instrumental revela uma faceta menos conhecida, mas igualmente talentosa, do compositor.

Lançada por volta de 1930, em um período em que Noel já consolidava sua fama como sambista lírico e observador aguçado da sociedade, 'Coisas do Sertão' nos transporta para longe da efervescência urbana do Rio de Janeiro. Sem a necessidade de versos, a melodia por si só evoca imagens do interior do Brasil, talvez paisagens áridas, o sol forte ou a simplicidade da vida no campo, convidando à contemplação. É um exercício de composição onde a harmonia e o ritmo assumem o papel narrativo principal, permitindo ao ouvinte preencher as lacunas com sua própria imaginação.

A existência de composições instrumentais como esta demonstra a versatilidade musical de Noel Rosa e seu profundo conhecimento de orquestração e melodia, que ia além do suporte à poesia. Embora não tenha alcançado a mesma popularidade de seus sambas cantados, 'Coisas do Sertão' é um tesouro para quem deseja explorar a amplitude do gênio de Noel, revelando um artista que, mesmo sem a caneta de cronista, era capaz de pintar com sons os mais diversos cenários e sentimentos do Brasil.