Filosofia
Letra
O mundo me condena e ninguém tem pena Falando sempre mal do meu nome! Deixando de saber Se eu vou morrer de sede Ou se vou morrer de fome?Mas, a filosofia hoje me auxilia A viver indiferente, assim! Nesta prontidão, sem fim Vou fingindo que sou rico Pra ninguém zombar de mim!Não me incomodo que você me diga Que a sociedade é minha inimiga! Pois, cantando neste mundo Vivo escravo do meu samba Muito embora, vagabundo!Quanto a você da aristocracia Que tem dinheiro mas Não compra alegria! Há de viver eternamente Sendo escrava dessa gente Que cultiva hipocrisia!
História da Canção
Lançada em 1933, a canção "Filosofia" é um dos grandes clássicos de Noel Rosa, o Poeta da Vila, e um retrato fiel do Rio de Janeiro da década de 1930. Este período foi marcado por intensas transformações sociais e econômicas no Brasil, com a consolidação do samba como expressão musical urbana e a efervescência da vida boêmia carioca. Noel, com sua sagacidade única, capturava em suas letras as nuances do cotidiano, as tensões entre classes e a filosofia de vida do malandro e do sambista.
A letra de "Filosofia" é um primor de ironia e crítica social. Noel descreve a condenação do mundo à sua figura, um homem que enfrenta a pobreza ("Se eu vou morrer de sede / Ou se vou morrer de fome?") mas que se recusa a ser derrotado pelo escárnio. Sua "filosofia" é a de manter a dignidade, mesmo que para isso precise "fingir que sou rico / Pra ninguém zombar de mim!". Essa postura revela a resiliência e a inteligência do personagem noelino, que encontra na indiferença e na astúcia uma forma de sobreviver à adversidade.
A canção também contém uma alfinetada direta à aristocracia, acusando-a de possuir dinheiro mas não alegria, e de ser escrava da hipocrisia. Noel se posiciona como um "vagabundo" (no sentido boêmio e de liberdade), mas escravo do seu samba, elevando a arte e a autenticidade acima das riquezas materiais e das convenções sociais. "Filosofia" é, portanto, um manifesto sobre a busca pela felicidade e pela identidade em um mundo de julgamentos e desigualdades, eternizando Noel Rosa como um cronista genial de sua época.
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