Composição de 1933

Dona do lugar

Letra

(Chegou...) Chegou a dona do lugar
Chegou...
Pelo modo de pisar
Se vê que é Iaiá de IoiôLá vem ela, lá vem ela
Com o Ioiô do seu lado
Arrastando a chinela
Dizendo samba raiadoQuando ela pega a sambar
Com o seu sapateado
Todos ficam a gritar
Dando viva ao Cais DouradoE essa bela Iaiá
Não acredita em muamba
Ela tem uma patuá
Que é todo o nosso sambaVou pedir, vou implorar
A meu Senhor do Bonfim
Pra fazer essa Iaiá
Se apaixonar por mim

História da Canção

A canção 'Dona do Lugar', com sua vivacidade e observação aguçada do universo do samba, ecoa a genialidade de Noel Rosa em capturar a essência da boemia carioca dos anos 30. Embora não seja uma das mais amplamente divulgadas em seu vasto repertório, a letra é um primor de descrição e lirismo, característica marcante do 'Poeta da Vila'.

Noel, um mestre em retratar a alma do Rio, possivelmente encontrou inspiração para 'Dona do Lugar' nas rodas de samba que frequentava assiduamente. A figura central é uma mulher forte e cativante, que domina o ambiente com sua presença e seu modo de sambar. A menção ao 'Cais Dourado' evoca os portos e as áreas populares da cidade, locais efervescentes de cultura e encontro, onde o samba pulsava livremente, longe dos salões mais formais.

A letra revela a típica inteligência de Noel ao abordar elementos culturais. A Iaiá, que 'não acredita em muamba', mas tem no 'nosso samba' seu verdadeiro patuá, demonstra uma valorização da autenticidade e da força intrínseca da cultura popular brasileira, em detrimento de superstições ou influências externas. O samba é aqui elevado a um poder protetor e agregador. O apelo final ao Senhor do Bonfim, uma figura de devoção tão ligada à cultura afro-brasileira e baiana (mas com grande ressonância no Rio), adiciona uma camada de fé e um desejo romântico que, apesar de pessoal, reflete a comunhão do eu-lírico com o universo de sua amada através da música.

A composição é um retrato vívido de uma época em que o samba ganhava as ruas e os rádios, celebrando a mulher, a dança e a alegria contagiante da vida carioca.

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