Composição de Início dos anos 1930 (aproximado)

Chuva de vento

Letra

Chuva de vento
É quando o vento dá na chuva
Sol com chuva
Céu cinzento
Casamento de viúvaZeca Secura
Da fazendo do Anzol
Quando chove não vê Sol
Vai comprar feijão no centro
Bebe dez litros
De cachaça em meia hora
Pra aguentá chuva por fora
Tem que se molhar por dentroVento danado
É aquele lá de Minas
Sopra em cima das meninas
Diverte a população
Até os velhos
Vão correndo pras janelas
Pra ver se alguma delas
Já usa combinaçãoFaz Sol com chuva
Tem viúva lá da Penha
Não há viúva que tenha
Tantos pretendente junto
Nessa corrida
Da viúva de seu Mário
Quem for vencedor do páreo
Ganha resto de defuntoQuem nunca viu
Chuva de vento à fantasia
Vá em Caxambu de dia
Domingo de carnaval
Chuva de vento
Só essa de Caxambu
Domingo chove chuchu
E venta água mineralUm Zé Pau d'Água
Tem um amigo parasita
Não trabalha e sempre grita
Viva Deus e chova arroz!
Gritando assim
Do seu povo ele se vinga
Viva Deus e chova pinga
Que o arroz nasce depois

História da Canção

A canção "Chuva de Vento", embora não seja uma das mais amplamente conhecidas ou diretamente atribuídas a Noel Rosa em seu cânone oficial de gravações, exibe uma notável consonância com o estilo e os temas que consagraram o Poeta da Vila. As letras fornecidas revelam o gênio observador de Noel, capaz de transformar cenas corriqueiras e figuras populares em poesia, com seu olhar único sobre o Brasil e seus tipos.

As referências à "chuva de vento", ao "sol com chuva" e ao "casamento de viúva" (um dito popular que se refere a esses fenômenos meteorológicos) demonstram a sua habilidade em capturar o folclore e a sabedoria popular. A descrição de personagens como Zeca Secura, um tipo que bebe "dez litros de cachaça em meia hora" para "aguentá chuva por fora", e Zé Pau d'Água com seu amigo parasita que clama por "pinga" em vez de arroz, são arquétipos do cotidiano brasileiro da época, muitas vezes marcados pela boemia e pela astúcia para sobreviver.

O humor sutil e a ironia de Noel Rosa são evidentes em passagens como a corrida pela "viúva de seu Mário", cujo prêmio para o vencedor do páreo é o irônico "resto de defunto", uma forma jocosa de lidar com a morte e a busca por segurança. As menções geográficas a "Minas" e "Caxambu", com sua peculiar "chuva de chuchu" e "vento água mineral" no carnaval, pintam um quadro vívido do interior do Brasil e suas particularidades regionais. A observação do "vento danado de Minas" que "sopra em cima das meninas" e diverte a população, com os velhos correndo "pras janelas" para ver se "alguma delas já usa combinação", é um exemplo da leveza e malandragem no olhar de Noel, capturando um flerte inocente da vida provinciana.

Se esta fosse uma composição de Noel Rosa, ela se encaixaria perfeitamente em sua fase mais produtiva, no início dos anos 1930, período em que ele produziu sambas que narravam o dia a dia, a malandragem carioca e as pequenas tragédias e alegrias do povo, com um lirismo que misturava o popular e o erudito.

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