Chuva de vento
Letra
Chuva de vento É quando o vento dá na chuva Sol com chuva Céu cinzento Casamento de viúvaZeca Secura Da fazendo do Anzol Quando chove não vê Sol Vai comprar feijão no centro Bebe dez litros De cachaça em meia hora Pra aguentá chuva por fora Tem que se molhar por dentroVento danado É aquele lá de Minas Sopra em cima das meninas Diverte a população Até os velhos Vão correndo pras janelas Pra ver se alguma delas Já usa combinaçãoFaz Sol com chuva Tem viúva lá da Penha Não há viúva que tenha Tantos pretendente junto Nessa corrida Da viúva de seu Mário Quem for vencedor do páreo Ganha resto de defuntoQuem nunca viu Chuva de vento à fantasia Vá em Caxambu de dia Domingo de carnaval Chuva de vento Só essa de Caxambu Domingo chove chuchu E venta água mineralUm Zé Pau d'Água Tem um amigo parasita Não trabalha e sempre grita Viva Deus e chova arroz! Gritando assim Do seu povo ele se vinga Viva Deus e chova pinga Que o arroz nasce depois
História da Canção
A canção "Chuva de Vento", embora não seja uma das mais amplamente conhecidas ou diretamente atribuídas a Noel Rosa em seu cânone oficial de gravações, exibe uma notável consonância com o estilo e os temas que consagraram o Poeta da Vila. As letras fornecidas revelam o gênio observador de Noel, capaz de transformar cenas corriqueiras e figuras populares em poesia, com seu olhar único sobre o Brasil e seus tipos.
As referências à "chuva de vento", ao "sol com chuva" e ao "casamento de viúva" (um dito popular que se refere a esses fenômenos meteorológicos) demonstram a sua habilidade em capturar o folclore e a sabedoria popular. A descrição de personagens como Zeca Secura, um tipo que bebe "dez litros de cachaça em meia hora" para "aguentá chuva por fora", e Zé Pau d'Água com seu amigo parasita que clama por "pinga" em vez de arroz, são arquétipos do cotidiano brasileiro da época, muitas vezes marcados pela boemia e pela astúcia para sobreviver.
O humor sutil e a ironia de Noel Rosa são evidentes em passagens como a corrida pela "viúva de seu Mário", cujo prêmio para o vencedor do páreo é o irônico "resto de defunto", uma forma jocosa de lidar com a morte e a busca por segurança. As menções geográficas a "Minas" e "Caxambu", com sua peculiar "chuva de chuchu" e "vento água mineral" no carnaval, pintam um quadro vívido do interior do Brasil e suas particularidades regionais. A observação do "vento danado de Minas" que "sopra em cima das meninas" e diverte a população, com os velhos correndo "pras janelas" para ver se "alguma delas já usa combinação", é um exemplo da leveza e malandragem no olhar de Noel, capturando um flerte inocente da vida provinciana.
Se esta fosse uma composição de Noel Rosa, ela se encaixaria perfeitamente em sua fase mais produtiva, no início dos anos 1930, período em que ele produziu sambas que narravam o dia a dia, a malandragem carioca e as pequenas tragédias e alegrias do povo, com um lirismo que misturava o popular e o erudito.
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