Meu Bem

A menção a uma obra instrumental de Noel Rosa intitulada "Meu Bem" é, em si, um ponto de grande interesse para os estudiosos do Poeta da Vila. Noel, que faleceu precocemente em 1937, é célebre por sua capacidade ímpar de pintar o cenário da boemia carioca e as complexidades das relações humanas através de letras que eram verdadeiras crônicas de seu tempo. Suas melodias, embora inegavelmente cativantes e inovadoras, eram quase sempre a espinha dorsal para sua poesia.

Dado que a "LETRA REAL" indica explicitamente que esta é uma "Música Instrumental" e "não possui letra", "Meu Bem" representaria uma faceta menos explorada ou documentada do gênio de Noel. É plausível imaginar que, entre as inúmeras melodias que compunha, algumas pudessem ter sido criadas sem o intuito imediato de receber versos, talvez como exercícios melódicos, temas para peças teatrais ou mesmo para ser executadas em bailes e rádio como mero entretenimento, sem a necessidade de um discurso verbal. Seria uma peça que demonstra seu talento para a harmonia e o ritmo, independentemente do brilhantismo lírico.

O contexto dos anos 30, época de intensa produção de Noel, era de efervescência cultural no Rio de Janeiro. A cidade era o epicentro do samba, do rádio e do cinema, e a música instrumental tinha seu espaço. Uma composição como "Meu Bem", sem letras, poderia evocar sentimentos de ternura, nostalgia ou a leveza de um flerte boêmio, traduzindo em notas a atmosfera que Noel tão bem descrevia em palavras. A ausência de letras nos obriga a focar na pureza de sua melodia, um convite à imaginação do ouvinte para preencher os sentimentos.