Composição de 1931 (aproximado)

Bom elemento

Letra

Entrei no samba 
E os malandros perguntaram
Se eu era bamba
No bater do tamborim
E o batuque
Eles logo improvisaram
Eu dei a cadência assim:Meu bem, o valor dá-se a quem tem
A Vila e a Aldeia não perdem pra ninguém
( O que é que tem?/não diga meu bem)
Meu bem, o valor dá-se a quem tem
A Vila e a Aldeia não perdem pra ninguémCom violência 
Enfrentei a batucada
A harmonia
Do meu simples instrumento
Fez toda a turma
Ficar muito admirada
Porque sou bom elemento.

História da Canção

A canção "Bom Elemento" é um autêntico retrato do universo do samba carioca e da personalidade de Noel Rosa, o Poeta da Vila. A letra, em sua simplicidade aparente, narra a experiência do eu-lírico – que pode ser facilmente identificado com o próprio Noel – ao adentrar uma roda de samba. Desde o início, a cena é estabelecida: "Entrei no samba / E os malandros perguntaram / Se eu era bamba / No bater do tamborim". Esta passagem evoca a necessidade de provar o próprio valor e autenticidade em um ambiente onde o ritmo e a malandragem eram testados.

Noel, com sua genialidade, responde ao desafio não com palavras, mas com sua música. Ele "dei a cadência assim", demonstrando sua habilidade rítmica. O refrão "Meu bem, o valor dá-se a quem tem / A Vila e a Aldeia não perdem pra ninguém" é um manifesto de orgulho e autoafirmação. "A Vila" refere-se à Vila Isabel, bairro natal de Noel, e "Aldeia" possivelmente à Aldeia da Pedra ou outro reduto de bambas, realçando a rivalidade e o amor pelos bairros de origem no cenário do samba. A inserção "(O que é que tem?/não diga meu bem)" adiciona um toque de coloquialidade e humor, característico do estilo de Noel, simulando um diálogo descontraído.

A segunda estrofe reforça essa confiança: "Com violência / Enfrentei a batucada / A harmonia / Do meu simples instrumento / Fez toda a turma / Ficar muito admirada / Porque sou bom elemento". A "violência" aqui é a intensidade e a força de sua performance, não agressão literal. O "simples instrumento" (o tamborim) é enaltecido como capaz de impressionar, consolidando a imagem do eu-lírico como um músico talentoso e um verdadeiro "bom elemento" no samba. A música é um testemunho da capacidade de Noel de se inserir e se destacar no meio do samba, um universo que ele, morador da zona norte de classe média, soube desbravar e eternizar em suas composições, misturando o asfalto e o morro em suas crônicas musicais da boemia carioca dos anos 1930.

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