Composição de 1933

Você, por exemplo

Letra

Há muita gente que apesar do pincinê
Passa por nós, dá esbarrão e não nos vê
Anda depressa mas vai sempre com atraso
Você, por exemplo, você por exemplo, está neste caso.Quanto barbado que não paga engraxate
Muda de casa e deixa mudo o alfaiate
Quanto barbado que jejua mais que o Gandhy
Você, por exemplo, você por exemplo, não tem barba grande.Há muitas santas no mundo que vivem fora do templo
Santas de olhar bem profundo
Você, por exemplo, você, por exemploQuanta menina por ouvir no telefone
Uma voz grossa feito solo de trombone
Pega o automóvel vai parar não sei aonde
Você, por exemplo, você por exemplo, não anda de bonde.E muita gente que só sabe dar palpite
Que tem cabeça mas já teve meningite
E tanta gente vive bem sem um pulmão
Você, por exemplo, você por exemplo, não tem coração.

História da Canção

Em “Você, por exemplo”, Noel Rosa, o Poeta da Vila, nos presenteia com um retrato mordaz e bem-humorado da sociedade carioca dos anos 30. Lançada por volta de 1933, esta canção é um exemplo clássico da maestria de Noel em observar o cotidiano e transformá-lo em poesia e crítica social. A letra é construída sobre uma série de tipos urbanos e seus hábitos peculiares, sempre concluindo com a interpelação direta: “Você, por exemplo”.

Noel critica desde a falsa erudição (“que apesar do pincinê”) e a falta de cortesia, passando pelos devedores contumazes (“Quanto barbado que não paga engraxate”), a hipocrisia religiosa (“Há muitas santas no mundo que vivem fora do templo”) e a superficialidade de certos comportamentos femininos (“Quanta menina por ouvir no telefone uma voz grossa”). A canção atinge seu ápice na observação da futilidade e da falta de empatia, concluindo com a chocante ironia: “Você, por exemplo, não tem coração”.

A genialidade de Noel reside na forma como ele, de maneira leve e aparentemente despretensiosa, tece um panorama de críticas sociais, sempre mantendo um tom de cumplicidade irônica com o ouvinte. É uma aula de como a crônica do dia a dia pode se tornar arte e um documento valioso sobre os costumes e valores de uma época.

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