Composição de 1933

Mas Como... Outra Vez?

Letra

Mas como? Outra vez?
Toma cuidado se a moda pega
Estou bem certo
Acabas como Judas no desertoO meu dinheiro, é macho e não cresce
Só o teu cresce, mas não aparece
Teu grande medo lá do botequim
É pagar um café pra mim!Sempre a fazer teus castelos de areia
Sujas teus pés no sapato sem meia!
Não tens chapéu, nem gravata hoje em dia
Por medida de economia!Quando tu compras jornal é fiado
Dando a desculpa que não tens trocado
Os pobres ficam com dor de cabeça
Por ouvir: Deus te favoreça!Lembrei agora em hora propícia
Que o teu caso pertence à polícia
Cabe esta espécie de caso anormal
À Polícia Especial!

História da Canção

"Mas Como... Outra Vez?", composta em 1933, é um exemplo primoroso do olhar perspicaz de Noel Rosa para as nuances do cotidiano carioca e os tipos humanos que povoavam a boemia da Lapa. Nesta canção, o Poeta da Vila tece uma crítica mordaz a um personagem que encarna a falsa malandragem e a pão-durismo. A letra descreve um indivíduo que vive de aparências, sempre sem dinheiro, dando desculpas esfarrapadas ("não tens trocado" ao comprar jornal fiado) e que, pior ainda, se recusa a pagar algo tão trivial como um café.

A referência a "Judas no deserto" e aos "castelos de areia" sublinha a futilidade e a falta de base real na vida desse personagem. Noel, com sua ironia afiada, não poupa detalhes, mencionando os "pés no sapato sem meia" e a "medida de economia" que o impede de usar chapéu e gravata, elementos então essenciais para a dignidade masculina.

A culminância da crítica vem com a sugestão de que o "caso anormal" do personagem "pertence à polícia", transformando a fofoca de botequim em um problema de ordem pública, ainda que em tom de brincadeira. A música não é apenas um retrato cômico, mas uma reflexão sobre a ética social e a aversão de Noel àqueles que exploram a boa vontade alheia e vivem de subterfúgios. É uma joia da crônica musical brasileira, que revela a genialidade de Noel em transformar observações do dia a dia em arte.

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