Composição de 1934

Você é um colosso

Letra

Você é um colosso, andou no meu carro
Filou meu almoço, fumou meu cigarro!
Vestiu meu pijama, senti um abalo
Usou minha cama, pisou no meu calo!E não adianta
Você me pedir perdão!
Depois de você pisar
Meu calo de estimação!Você é um colosso e não faz chiquê
Enrolou no pescoço o meu cachenês!
Foi no galinheiro, matou o meu galo
Falou em dinheiro, pisou no meu calo!Você é um colosso, comeu sanduíche
Falando bem grosso que samba é maxixe!
Eu disse: Caramba! Não sou seu vassalo
Falou mal de samba, pisou no meu calo!

História da Canção

“Você É Um Colosso” é uma das joias líricas de Noel Rosa, o “Poeta da Vila”, lançada por volta de 1934. A canção é um retrato humorístico e perspicaz das relações interpessoais no Rio de Janeiro da época, com a genialidade de Noel em transformar pequenas irritações do cotidiano em crônicas musicais atemporais.

A letra, aparentemente leve, esconde uma crítica sutil e bem-humorada a um tipo de personagem bastante comum: o aproveitador, o “folgado” que se beneficia da boa-fé alheia. O termo “colosso” é usado com ironia mordaz; a figura descrita está longe de ser grandiosa ou admirável, sendo, na verdade, um incômodo colossal. Noel enumera uma série de abusos sofridos pelo eu-lírico:

  • “Você é um colosso, andou no meu carro / Filou meu almoço, fumou meu cigarro!”
  • “Vestiu meu pijama, senti um abalo / Usou minha cama, pisou no meu calo!”

O refrão, com o lamento do “calo de estimação” pisado, é uma metáfora brilhante para aquela sensibilidade ou limite pessoal que, uma vez violado, não admite perdão. A repetição do “pisou no meu calo!” reforça a exaustão e a indignação acumulada.

Além das apropriações materiais, Noel também insere uma crítica cultural ao oportunista que desdenha do samba – “Falando bem grosso que samba é maxixe!” – um ultraje para o defensor intransigente do samba autêntico que era Noel Rosa. A resposta do eu-lírico, “Eu disse: Caramba! Não sou seu vassalo / Falou mal de samba, pisou no meu calo!”, revela a importância do samba para a identidade e o orgulho do personagem, e, por extensão, do próprio Noel.

A música reflete o estilo inconfundível de Noel, que sabia como ninguém observar e satirizar a sociedade carioca dos anos 30, capturando em suas composições a boemia, as mazelas e as particularidades da vida urbana com inteligência e um toque de melancolia disfarçada em escárnio. “Você É Um Colosso” é um exemplo clássico de sua capacidade de transformar a observação do pequeno detalhe em uma crítica universal.

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