Composição de 1936

Tarzan (o filho do alfaiate)

Letra

Quem foi que disse que eu era forte?
Nunca pratiquei esporte, nem conheço futebol...
O meu parceiro sempre foi o travesseiro
E eu passo o ano inteiro sem ver um raio de sol
A minha força bruta reside
Em um clássico cabide, já cansado de sofrer
Minha armadura é de casimira dura
Que me dá musculatura, mas que pesa e faz doerEu poso pros fotógrafos, e destribuo autógrafos
A todas as pequenas lá da praia de manhã
Um argentino disse, me vendo em Copacabana:
'No hay fuerza sobre-humana que detenga este Tarzan'  De lutas não entendo abacate
Pois o meu grande alfaiate não faz roupa pra brigar
Sou incapaz de machucar uma formiga
Não há homem que consiga nos meus músculos pegar
Cheguei até a ser contratado
Pra subir em um tablado, pra vencer um campeão
Mas a empresa, pra evitar assassinato
Rasgou logo o meu contrato quando me viu sem roupãoEu poso pros fotógrafos, e destribuo autógrafos
A todas as pequenas lá da praia de manhã
Um argentino disse, me vendo em Copacabana:
'No hay fuerza sobre-humana que detenga este Tarzan'Quem foi que disse que eu era forte?
Nunca pratiquei esporte, nem conheço futebol...
O meu parceiro sempre foi o travesseiro
E eu passo o ano inteiro sem ver um raio de sol
A minha força bruta reside
Em um clássico cabide, já cansado de sofrer
Minha armadura é de casimira dura
Que me dá musculatura, mas que pesa e faz doer

História da Canção

Composta por Noel Rosa e Vadico em 1936, a canção "Tarzan (o filho do alfaiate)" é uma das mais emblemáticas no repertório de Noel, um verdadeiro cartão de visitas para seu humor autoirônico e sua capacidade de transformar a própria fragilidade física em poesia. Noel Rosa, que sofria de tuberculose e possuía uma compleição física delicada, usa a figura heroica e robusta de Tarzan para criar um contraste hilário com sua própria imagem.

A letra, com sua sinceridade mordaz, desmente qualquer ideia de força bruta: "Quem foi que disse que eu era forte? / Nunca pratiquei esporte, nem conheço futebol...". Noel se descreve como um homem caseiro, cujo "parceiro sempre foi o travesseiro" e que passa "o ano inteiro sem ver um raio de sol". A "força bruta" reside em um "clássico cabide" e a "armadura de casimira dura" que, em vez de proteger, "pesa e faz doer".

A menção ao "filho do alfaiate" reforça a ideia de uma vida sem apego a atividades físicas intensas, ligada mais ao universo doméstico e à arte do que à virilidade atlética. A anedota do argentino em Copacabana, que o vê e exclama: "No hay fuerza sobre-humana que detenga este Tarzan'", é o estopim para a série de confissões de fraqueza e a prova de que a percepção externa nem sempre corresponde à realidade interna. A cena em que é contratado para uma luta, mas tem o contrato rasgado ao ser visto sem roupão, é um ápice cômico que sublinha a desilusão com as aparências.

"Tarzan (o filho do alfaiate)" é, portanto, muito mais do que uma canção engraçada; é um profundo autorretrato de Noel Rosa, que habilmente subverte as expectativas e celebra a autenticidade de sua persona, tornando sua fraqueza em uma forma de força artística. É uma pérola do samba carioca que exemplifica o gênio do Poeta da Vila.

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