Composição de 1934

Quem Parte, Não Parte Sorrindo

Letra

Quem parte, não parte sorrindo
Sorrindo talvez, eu queira te esquecer
E tenha o grande prazer de te dizer
Que não vou sentir nenhuma dor
Sem teu amorQuem parte, não parte chorando
Na frente de quem não quer bem
E eu choro somente quando
Quem fica saudades tem!
Quem parte, só parte sorrindo
Na frente de quem não convém
Saber que quem ri vai fingindo
Não ter amor a ninguém

História da Canção

A canção "Quem Parte, Não Parte Sorrindo", composta por Noel Rosa, é um primor da ironia e da perspicácia psicológica que caracterizam a obra do "Poeta da Vila". Lançada em 1934, em pleno auge do samba e da efervescência cultural carioca, a música mergulha nas complexidades emocionais de uma despedida.

Noel, com sua habilidade ímpar, constrói uma narrativa onde a dor da separação é disfarçada por uma suposta indiferença ou até mesmo alegria. A letra, ao mesmo tempo em que declara um desejo de esquecer e a ausência de dor ("Sorrindo talvez, eu queira te esquecer / E tenha o grande prazer de te dizer / Que não vou sentir nenhuma dor / Sem teu amor"), revela uma camada de sarcasmo. A ideia de chorar "somente quando quem fica saudades tem" é uma inversão cínica das expectativas sociais sobre o luto pela perda de um amor.

A última estrofe é a chave para a interpretação da crítica de Noel: "Quem parte, só parte sorrindo / Na frente de quem não convém / Saber que quem ri vai fingindo / Não ter amor a ninguém". Aqui, o compositor expõe a hipocrisia social e a necessidade de manter as aparências, especialmente em relações afetivas. É uma crítica à fachada de desapego e à negação dos sentimentos, algo muito presente no cotidiano boêmio e nas relações humanas da época e de hoje. A canção é um espelho das emoções conturbadas e da arte de dissimular a dor, um tema universal tratado com a leveza e a profundidade típicas de Noel Rosa.

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