Composição de 1933 (aproximado)

Eu agora fiquei mal

Letra

Tenho vontade de ir à Penha
Mas me falta o principal
A mulher que me ajudava tanto
Ela deu o fora!
Eu agora fiquei mal
(Eu agora fiquei mal)Esta mulher foi-se embora
Me deixou bem arruinado
Eu que estava tão sadio
Agora estou acabado
Mas agora eu peço muito
Para não escorregar
Leve o meu pedido
À santa que está no altarTou vendo as coisas feias
Talvez nem possa alcançar
O final da escadaria
Que sobe pro seu altar
Nossa Senhora da Penha
Vai fazer o que puder
Se ela me livra
De toda mulher

História da Canção

Embora não seja uma das composições mais divulgadas no vasto repertório de Noel Rosa, a letra de "Eu Agora Fiquei Mal" ecoa perfeitamente o estilo e o humor do "Poeta da Vila". A canção nos transporta diretamente para o cotidiano do Rio de Janeiro dos anos 1930, uma época em que o samba consolidava sua identidade, narrando as crônicas urbanas com uma mistura de melancolia e sagacidade.

Noel, com sua observação aguda e peculiar, descreve a desventura de um homem que se vê subitamente abandonado pela mulher amada ("Ela deu o fora!"). Em seu desespero e sentimentos de ruína, o eu-lírico considera a tradicional e esperançosa peregrinação ao Santuário de Nossa Senhora da Penha – um ícone cultural da fé e da busca por graça na cidade. A menção à "escadaria que sobe pro seu altar" é uma metáfora vívida para a busca de consolo ou um milagre diante da adversidade.

A verdadeira genialidade de Noel, no entanto, reside no desfecho da canção. Enquanto a expectativa seria por um pedido para que a amada retornasse ou para que um novo amor surgisse, o eu-lírico surpreende ao rogar à santa que o "livra de toda mulher". Este toque de sarcasmo agridoce e desilusão romântica é uma assinatura inconfundível de Noel. Ele frequentemente abordava as complexidades das relações amorosas com um olhar desencantado, mas sempre poético e espirituoso, transformando a tristeza inicial em uma reflexão irônica sobre as próprias paixões.

"Eu Agora Fiquei Mal" é um samba que, mesmo em sua aparente simplicidade, revela a profundidade de sentimentos e a visão de mundo particular de Noel Rosa: a observação perspicaz do comportamento humano, a ambientação urbana carioca e a habilidade única de transformar a dor em arte através de um humor sutil e inteligente.

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