Mentir
Letra
Mentir, mentir Somente para esconder A mágoa que ninguém deve saber Mentir, mentir Em vez de demonstrar A nossa dor num gesto ou num olharSaber mentir é prova de nobreza Pra não ferir alguém com a franqueza Mentira não é crime É bem sublime o que se diz Mentindo para fazer alguém felizÉ com a mentira que a gente se sente mais contente Por não pensar na verdade O próprio mundo nos mente, ensina a mentir Chorando ou rindo, sem ter vontadeE se não fosse a mentira, ninguém mais viveria Por não poder ser feliz E os homens contra as mulheres na terra Então viveriam em guerra Pois no campo do amor A mulher que não mente não tem valorSaber mentir é prova de nobreza Pra não ferir alguém com a franqueza Mentira não é crime É bem sublime o que se diz Mentindo para fazer alguém feliz
História da Canção
Longe de ser um incentivo à desonestidade, a canção pode ser vista como um comentário mordaz sobre a hipocrisia e as 'pequenas verdades' que sustentavam as relações sociais de sua época. Em um contexto onde a franqueza total poderia desmantelar a ordem social ou ferir sensibilidades, Noel sugere que a mentira, em sua forma mais 'nobre', funciona como um amortecedor, uma forma de convivência. A frase 'Saber mentir é prova de nobreza / Pra não ferir alguém com a franqueza' não seria um elogio à falsidade, mas uma crítica sutil à fragilidade das relações humanas, que exigiam tais artifícios para se manterem.
A menção de que 'o próprio mundo nos mente' e que sem a mentira 'ninguém mais viveria' ecoa a visão de um Noel que via a vida boêmia e o cotidiano carioca permeados por jogos de aparências. Para o malandro, a mentira era muitas vezes uma ferramenta de sobrevivência, um 'jeitinho' para navegar as dificuldades e as exigências da vida urbana. No amor, então, a 'mulher que não mente não tem valor' poderia ser uma observação cínica sobre as expectativas e os papéis sociais, onde um certo charme e mistério (ou a ausência de verdades inconvenientes) eram valorizados.
'Mentir' é, portanto, uma canção que provoca. Ela nos convida a questionar o que realmente significa a verdade e como as sociedades se constroem sobre bases muitas vezes ambíguas. Seria Noel defendendo a mentira ou desnudando a forma como a vemos e a utilizamos? A ambiguidade é a marca do gênio de Noel, que preferia a reflexão à pregação direta, deixando para o ouvinte o desafio de desvendar suas intenções mais profundas.
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