Composição de Cerca de 1932

Ingênua

Letra

Talvez, que eu lhe diga um dia
Toda a melancolia de um coração!
Todo este sofrimento que agora experimento
Nesse infeliz momento de tão acerba dor
Que crueldade, eu ser um sonhador
Ela não entender meu amorQual a razão por que minha
Paixão não a pode comover?
Somente o Criador sabe do amor
Que consagrei a quem tanto amei!A hora propicia!
Em que a malícia
Dela se apoderar!
Com meu violão direi
Então o meu pensar!E se ainda essa ingênua linda
Não me compreender
Eu, já descrente, direi
Que ela é inocente até morrer!

História da Canção

A canção Ingênua, se atribuída a Noel Rosa, se encaixa perfeitamente na faceta mais introspectiva e romântica do ‘Poeta da Vila’. Embora não seja uma de suas composições mais amplamente conhecidas ou gravadas em sua voz original, sua letra reflete a profunda sensibilidade e a mestria lírica que caracterizavam sua obra.

Ambientada no efervescente Rio de Janeiro do início da década de 1930, um período de ouro para o samba urbano, a música explora o tema universal do amor não correspondido com uma melancolia pungente. Noel, conhecido por sua observação aguçada do cotidiano e por transitar entre o bom humor e a tristeza sutil, aqui se entrega a uma “acerba dor” e ao sofrimento de um “sonhador” cuja paixão não é compreendida.

A menção ao “violão” remete diretamente à imagem do próprio Noel, que frequentemente usava o instrumento como confidente e meio de expressão. A letra culmina com uma resignação agridoce, onde o eu-lírico declara que, mesmo sem ser compreendido, a amada será considerada “inocente até morrer”. Esta frase, típica do estilo noelino, pode ser interpretada como uma constatação da ingenuidade feminina ou uma forma sutil de criticar a falta de percepção, sem, contudo, destituir a mulher de sua pureza, uma nuance complexa presente em várias de suas obras.

Ingênua seria, portanto, mais um testemunho da capacidade de Noel Rosa de transformar suas experiências pessoais e observações da vida carioca em poesia atemporal, adicionando uma camada de profundidade emocional ao seu vasto repertório.

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