Pra esquecer
Letra
Naquele tempo Em que você era pobre Eu vivia como um nobre A gastar meu vil metalE por minha vontade Você foi para a cidade Esquecendo a solidão E a miséria daquele barracão Tudo passou tão depressaFiquei sem nada de meu E esquecendo a promessa Você me esqueceu E partiu com o Primeiro que apareceuNão querendo ser Pobre como eu E hoje em dia Quando por mim você passa Bebo mais uma cachaça Com meu último tostãoPra esquecer a desgraça Tiro mais uma fumaça Do cigarro que filei De um ex-amigo Que outra hora sustentei!
História da Canção
"Pra Esquecer" é uma obra-prima de Noel Rosa que exemplifica a agudeza de sua observação social e sua habilidade em transformar situações cotidianas em poesia musical. Lançada em 1931, a canção surge em um período de intensa efervescência cultural e social no Rio de Janeiro, com o samba consolidando-se como trilha sonora da cidade.
A letra narra uma inversão de fortunas, um tema recorrente na obra de Noel. O protagonista, que antes vivia como um "nobre" gastando seu "vil metal", vê-se agora na mais profunda miséria, entregue à cachaça e ao cigarro "filei". Em contraste, a pessoa a quem ele ajudou ("Você foi para a cidade") ascende socialmente, esquecendo-o e partindo com "o primeiro que apareceu", movida pelo desejo de não ser "Pobre como eu".
Noel Rosa, com seu olhar crítico e, por vezes, sarcástico, expõe a fragilidade das relações humanas diante da mudança de status social e financeiro. A música é um retrato melancólico da ingratidão e da efemeridade da riqueza, mergulhando na boemia carioca como refúgio para as desilusões. A imagem do eu-lírico bebendo "mais uma cachaça" com seu "último tostão" e fumando um cigarro "filei" de um ex-amigo que outrora sustentou é um golpe de mestre na representação da derrocada pessoal.
A genialidade de Noel reside em sua capacidade de narrar uma história complexa e emocionalmente carregada em poucas estrofes, utilizando uma linguagem coloquial e direta que ressoava profundamente com o público da época, e continua a fazê-lo hoje. "Pra Esquecer" é um mergulho na alma do malandro decadente e na crueza da vida real, um legado atemporal do Poeta da Vila.
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