A.B. Surdo - Marcha Maluca
Letra
(70-sul)Nasci na Praia do Vizinho, 86 Vai fazer um mês (Vai fazer um mês) Que minha tia me emprestou cinco mil réis Pra comprar pastéis (Pra comprar pastéis)É futurismo, menina, É futurismo, menina, Pois não é marcha Nem aqui nem lá na ChinaDepois mudei-me para a Praia do Cajú Para descansar (Para descansar) No cemitério toda gente pra viver Tem que falecer (Tem que falecer)Seu Dromedário é um poeta de juízo É uma coisa louca (É uma coisa louca) Pois só faz versos quando a lua vem saindo Lá do céu da boca (Lá do céu da boca)
História da Canção
A obra "A.b. Surdo - Marcha Maluca", se inserida na vasta e brilhante discografia de Noel Rosa, representa um dos exemplos mais curiosos de sua genialidade satírica e seu olhar arguto sobre as tendências de sua época. Embora suas letras não figurem entre as mais conhecidas do Poeta da Vila, elas revelam um Noel em sua faceta mais experimental e, talvez, provocadora.
As referências geográficas como "Praia do Vizinho" e "Praia do Cajú", juntamente com a menção explícita ao "futurismo", sugerem uma crítica bem-humorada às vanguardas artísticas e intelectuais que ganhavam força no Brasil dos anos 1920 e 1930. Noel, com sua sabedoria popular e seu humor corrosivo, frequentemente desdenhava das modas importadas e das "invenções" que considerava pretensiosas ou distantes da realidade do povo carioca.
A estrutura aparentemente desconexa e as imagens surreais – como o "cemitério toda gente pra viver Tem que falecer", o "Dromedário é um poeta de juízo" e a "lua vem saindo Lá do céu da boca" – podem ser interpretadas como uma paródia deliberada do que ele via como o exagero e a incompreensibilidade de certos movimentos artísticos. A música, então, torna-se uma "marcha maluca" não apenas no ritmo, mas em sua própria construção lírica, espelhando a "loucura" das ideias que satirizava.
A menção aos "cinco mil réis" para comprar pastéis, mesmo em meio ao delírio poético, ancora a canção no cotidiano financeiro da época, um toque de realismo boêmio característico de Noel, que nunca perdia a oportunidade de comentar a vida miúda do Rio de Janeiro, mesmo quando estava a criticar a "alta cultura".
Assim, "A.b. Surdo - Marcha Maluca" seria um manifesto velado de Noel Rosa contra a artificialidade e a intelectualização excessiva da arte, reafirmando seu compromisso com a simplicidade, a observação e a inteligência da cultura popular.
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