Composição de 1933

Paga-me Está Noite

Letra

Neste tempo medonho!
Canto, tristonho
Ao microfone este preludio!
O ouvinte, risonho
Nem por um sonho!
Sabe o que me trás
Ao estúdio!Aqui, que és o irmão
Do tal pão-duro!
Meu recibo vai assombrar
De revolver na mão
Eu vim aqui, cobrar!

História da Canção

A canção 'Paga-me Está Noite', embora menos conhecida no repertório de Noel Rosa, é um documento pungente da realidade enfrentada pelos artistas da sua época. O 'Poeta da Vila', com sua sagacidade habitual, utiliza a letra para pintar um quadro sombrio da vida de um músico que, em meio ao 'tempo medonho' – uma clara alusão aos anos de crise econômica pós-crash de 1929, que impactaram profundamente o Brasil – se vê obrigado a ir ao estúdio 'tristonho' não apenas para cantar, mas para cobrar.

A figura do 'pão-duro' é uma metáfora poderosa, provavelmente referindo-se a produtores, donos de rádios ou casas de espetáculo que exploravam o trabalho dos artistas, atrasando ou negando pagamentos. A imagem de 'de revólver na mão eu vim aqui, cobrar!' é, sem dúvida, uma hipérbole dramática. Não se tratava de uma ameaça literal de Noel, mas de uma expressão do desespero e da indignação diante da precariedade de sua profissão. É o sarcasmo do samba, transformando uma amarga realidade em arte, onde a leveza da melodia escondia a gravidade da mensagem.

Noel, que observava com agudeza o cotidiano carioca, sabia que muitos de seus colegas viviam à beira da penúria, enquanto o público 'risonho' desfrutava da música sem ter noção do sacrifício por trás dela. Essa música é um grito silencioso contra a exploração na nascente indústria do entretenimento, revelando um lado menos glamouroso da boemia e da criação artística no Rio de Janeiro dos anos 30.

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