O Pulo da Hora
Letra
(Que horas são?)Eu venho agora Saber a hora Que o ponteiro está marcando No relógio da SenhoraMinha mulher Sempre quer me dar pancada Quando eu olho o mostrador Do relógio da criada Eu já danado Com intriga e com trancinha Arranquei hoje o cabelo Do relógio da vizinhaFiquem sabendo Os senhores e as senhoras Que o pai da minha pequena Me manda embora ás 10 horas Mas a pequena, que é sabida e muito sonsa Com este pulo da hora Já deu o pulo da onçaHá muito tempo Briguei com o batedor Troquei de mal com as horas Quebrei o despertador O meu relógio anda agora viciado De tanto andar no meu bolso Ele anda sempre atrasadoO meu relógio é de ouro brasileiro Trabalha bem sem corda Sem vidro nem ponteiro! Em minha casa, surgiu hoje uma briga Meu credor usa moderna E eu adoto a hora antiga!O carioca perdeu a calma e a paz A hora pulo pra frente E a nota pulou pra trás! Mas, eu agora já gostei deste brinquedo Para me vingar da hora Janto três horas mais cedo!
História da Canção
A canção "O Pulo da Hora" de Noel Rosa é um registro musical engenhoso e bem-humorado de um evento que causou grande burburinho no Rio de Janeiro dos anos 1930: a implementação (ou mudanças) do horário de verão, popularmente conhecido como "o pulo da hora". Noel, o "Filósofo do Samba", com sua perspicácia habitual, transformou a confusão e o descontentamento gerados pela alteração do relógio em uma crônica musical.
A letra descreve o caos que a mudança de horário provocava no cotidiano: brigas domésticas por desconfiança ("Minha mulher / Sempre quer me dar pancada / Quando eu olho o mostrador / Do relógio da criada"), a alteração nas rotinas e até as implicações financeiras ("A hora pulo pra frente / E a nota pulou pra trás!"). O trecho "Mas a pequena, que é sabida e muito sonsa / Com este pulo da hora / Já deu o pulo da onça" é uma genialidade, associando a astúcia feminina à adaptação aos novos tempos. Noel, com sua ironia fina, propõe uma "vingança" pessoal ao jantar mais cedo, desafiando a imposição do tempo oficial.
Esta música é um excelente exemplo da capacidade de Noel Rosa de capturar o espírito de sua época, transformando temas do dia a dia em arte, e fazendo do samba um espelho da sociedade carioca. É uma obra que reflete a habilidade do compositor em observar e criticar as mudanças sociais com leveza e genialidade.
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