Composição de 1933

Amor de Parceria

Letra

Saiba primeiro
Que fulano é meu amigo!
E com ele eu não brigo
Com ciúmes de você!Você provoca
Briga entre rivais!
Para depois ver nos jornais
Seu nome, seu clichê!Há muito tempo
Meu amigo já sabia!
Que você me oferecia
Chocolate no jardim!
E começou a nossa parceria
Eu fui por ele e ele foi por mimVocê pensou que fomos enganados
Marcando encontro em dias alternados!
E nós fizemos a sua vontade
Dentro daquele enredo!
Eu e ele não tivemos
Prejuízo na sociedade!Quando meu sócio
Namorava em seu portão!
Eu ficava na esquina
Distraindo seu irmão!
E quantas vezes, eu perdi a fala
Quando estava sem tostão
E ele pedia bala!Nós aturamos sua tia implicante!
Mas, filamos seu jantar
Não pagamos restaurante!
Você não sai do nosso pensamento
Você foi negócio, foi divertimento!

História da Canção

Ao analisar a letra 'Amor de Parceria', atribuída aqui a Noel Rosa por exercício de contextualização, somos transportados para um cenário onde a malandragem e a inteligência social se entrelaçam em uma trama de relacionamentos complexos. Embora não haja um registro canônico dessa canção específica no repertório de Noel, sua temática ressoa com o universo que o 'Filósofo do Samba' tão bem explorou. A narrativa de dois amigos que, em uma engenhosa parceria, manipulam uma mulher ('Você') para seu próprio divertimento e benefício — chegando a filar jantar e a usar o relacionamento como 'negócio' — é um espelho da sagacidade e do cinismo que por vezes permeavam a boemia carioca dos anos 30.

Os versos 'Eu fui por ele e ele foi por mim' e 'Marcando encontro em dias alternados! E nós fizemos a sua vontade Dentro daquele enredo!' ilustram uma cumplicidade quase profissional na arte da sedução e da exploração de sentimentos. A menção a 'ficar na esquina distraindo seu irmão' enquanto o 'sócio' namora, e o detalhe de 'filamos seu jantar Não pagamos restaurante!', pintam um quadro vívido da necessidade de artimanhas para sobreviver e se divertir na metrópole, muitas vezes sem recursos ('Quando estava sem tostão E ele pedia bala!').

A canção, se realmente fosse de Noel, seria um exemplo notável de sua habilidade em transformar situações cotidianas e moralmente ambíguas em crônicas musicais. Ela revela uma faceta menos romântica e mais pragmática do amor e das relações interpessoais, onde o cálculo e a diversão se sobrepõem à paixão pura. Seria uma peça que, com sua ironia e sarcasmo, provocaria reflexão sobre a malandragem não apenas como um estilo de vida, mas como uma estratégia de sobrevivência e entretenimento na efervescente, mas desafiadora, Lapa daquela época.

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