Composição de 1934

Fui Louco

Letra

(Mas como eu) fui  louco
Resolvi tomar juízo
A idade
Vem chegando e é precisoSe eu choro
Meu sentimento é profundo
Ter perdido a mocidade
Na orgia
Maior desgosto do mundo!Neste mundo, ingrato e cruel
Eu já desempenhei o meu papel
E da orgia então
Vou  pedir minha demissãoFelizmente, mudei de pensar
E quero me regenerar
Já estou ficando maduro
E já penso no meu futuro

História da Canção

Noel Rosa, o “Poeta da Vila”, era um mestre em capturar e traduzir em melodia e verso a alma do Rio de Janeiro dos anos 1930. “Fui Louco” é um exemplo clássico dessa habilidade, uma reflexão agridoce, e talvez irônica, sobre a juventude boêmia e a inevitável chegada da maturidade.

A canção mergulha na persona do malandro que, ao se ver confrontado com o passar do tempo (“A idade vem chegando e é preciso tomar juízo”), expressa um arrependimento, ainda que ambíguo, pelas orgias e pela “mocidade perdida”. Essa ‘demissão’ da vida desregrada e a promessa de “me regenerar” são temas recorrentes na obra de Noel e no imaginário popular da época, onde o malandro muitas vezes oscilava entre a glória de sua liberdade e o chamado à conformidade social.

É importante notar o contexto da vida de Noel. Lutando contra a tuberculose desde cedo, sua percepção do tempo e da finitude era aguçada, o que pode adicionar uma camada de seriedade à aparente ironia da “regeneração”. Contudo, sua genialidade residia justamente na capacidade de brincar com essa dualidade, deixando o ouvinte em dúvida se a promessa de mudança é sincera ou mais uma faceta da sua complexa figura.

“Fui Louco” não é apenas uma canção sobre arrependimento; é um retrato de uma época, de um arquétipo e da genialidade de um compositor que sabia rir, chorar e fazer pensar com a mesma melodia. É uma obra que ecoa a reflexão sobre o que significa crescer e o que se deixa para trás, um tema universal com a inconfundível assinatura do samba de Noel Rosa.

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