Fui Louco
Letra
(Mas como eu) fui louco Resolvi tomar juízo A idade Vem chegando e é precisoSe eu choro Meu sentimento é profundo Ter perdido a mocidade Na orgia Maior desgosto do mundo!Neste mundo, ingrato e cruel Eu já desempenhei o meu papel E da orgia então Vou pedir minha demissãoFelizmente, mudei de pensar E quero me regenerar Já estou ficando maduro E já penso no meu futuro
História da Canção
Noel Rosa, o “Poeta da Vila”, era um mestre em capturar e traduzir em melodia e verso a alma do Rio de Janeiro dos anos 1930. “Fui Louco” é um exemplo clássico dessa habilidade, uma reflexão agridoce, e talvez irônica, sobre a juventude boêmia e a inevitável chegada da maturidade.
A canção mergulha na persona do malandro que, ao se ver confrontado com o passar do tempo (“A idade vem chegando e é preciso tomar juízo”), expressa um arrependimento, ainda que ambíguo, pelas orgias e pela “mocidade perdida”. Essa ‘demissão’ da vida desregrada e a promessa de “me regenerar” são temas recorrentes na obra de Noel e no imaginário popular da época, onde o malandro muitas vezes oscilava entre a glória de sua liberdade e o chamado à conformidade social.
É importante notar o contexto da vida de Noel. Lutando contra a tuberculose desde cedo, sua percepção do tempo e da finitude era aguçada, o que pode adicionar uma camada de seriedade à aparente ironia da “regeneração”. Contudo, sua genialidade residia justamente na capacidade de brincar com essa dualidade, deixando o ouvinte em dúvida se a promessa de mudança é sincera ou mais uma faceta da sua complexa figura.
“Fui Louco” não é apenas uma canção sobre arrependimento; é um retrato de uma época, de um arquétipo e da genialidade de um compositor que sabia rir, chorar e fazer pensar com a mesma melodia. É uma obra que ecoa a reflexão sobre o que significa crescer e o que se deixa para trás, um tema universal com a inconfundível assinatura do samba de Noel Rosa.
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