Faz três semanas
Letra
Faz três semana Tô comendo só banana Porque não arranjo a grana Nem ao menos pra almoçarO que eu tô vendo É que se não me defendo Vou acabar me comendo Pra poder me alimentarIsto é despacho Nunca estive tão por baixo E se eu não me agacho Vou morrer de inaniçãoEu me escangalho De pular de galho em galho Seu ministro do trabalho Não me dá colocaçãoMeu esqueleto Tá pior do que um graveto Eu já tô virando espeto Meus olhos estão lá no fundoNum bruto treno Fui tomar café pequeno Quero ver se me enveneno Pra ir comer lá no outro mundoInda outro dia Fui até a galeria Só para ver se mordia O primeiro a aparecerChegou a hora Eu quis dizer É agora Mas Virgem Nossa Senhora Cadê dente pra moder
História da Canção
As letras retratam a dura realidade da miséria e da fome, um flagelo que atingia muitos brasileiros, especialmente na efervescência urbana do Rio de Janeiro dos anos 1930. A crise econômica global de 1929 teve reflexos profundos no Brasil, gerando desemprego e dificuldades financeiras. O eu-lírico expressa uma desesperança pungente, mas com o toque de ironia e sarcasmo que Noel dominava. Frases como 'Tô comendo só banana' ou 'Vou acabar me comendo / Pra poder me alimentar' são metáforas cruéis da privação.
A crítica social se acentua ao mencionar o 'ministro do trabalho', uma referência direta às políticas governamentais da Era Vargas, que prometia modernização e justiça social, mas não conseguia erradicar a pobreza mais extrema. A imagem de 'pular de galho em galho' sem 'colocação' ilustra a busca incessante e infrutífera por emprego.
O desespero final, com a vontade de 'tomar café pequeno' para 'se envenenar' e 'comer lá no outro mundo', aliado à incapacidade de 'morder' por falta de dentes, pinta um quadro de degradação física e moral causado pela inanição. Se esta canção não é de Noel Rosa, é, no mínimo, uma homenagem pungente ao seu estilo, à sua capacidade de transformar a tragédia do cotidiano em crônica musical com um sorriso amargo no rosto.
Tópicos Relacionados
Conheça outras obras
Mais crônicas e versos do Poeta da Vila o aguardam no acervo.
Explorar o Acervo Completo