Composição de 1934

Cadê trabalho?

Letra

Você grita que eu não trabalho
Diz que eu sou um vagabundo
Não faça assim, meu bem
Pois, eu vivo ativo neste mundoÀ espera do trabalho
E o trabalho não vem
Quando eu me sinto bem forte
Vou procurar um baralhoMas, fico fraco e sem sorte
Se vejo ao longe o trabalho
Se conversa adiantasse
Eu seria conselheiro
Se fraseado vingasse
Não andava sem dinheiroAcordei com pesadelo
Quase que o chão escangalho
Com dores no cotovelo
Por sonhar com trabalho
Trabalho é meu inimigo
Já quis me fazer de tolo
Marcando encontro comigo
O trabalho deu o bolo

História da Canção

A canção "Cadê Trabalho?" é um exemplo brilhante do sarcasmo e da genialidade de Noel Rosa ao abordar temas sociais e o comportamento humano, especialmente no contexto da malandragem carioca dos anos 1930. Naquela década, o Brasil vivia as repercussões da Crise de 1929 e uma efervescência cultural que consolidou o samba como expressão nacional, ao mesmo tempo em que a figura do malandro era constantemente debatida e retratada.

Noel, o "Poeta da Vila", muitas vezes se colocava na perspectiva do malandro ou observava com humor suas idiosincrasias. Nesta letra, ele inverte a lógica da cobrança social, personificando o trabalho como um inimigo astuto que o evita: "Trabalho é meu inimigo / Já quis me fazer de tolo / Marcando encontro comigo / O trabalho deu o bolo". A ironia é a arma principal, com o eu-lírico justificando sua inatividade com uma criatividade singular, alegando que está "ativo neste mundo à espera do trabalho".

A menção a "Acordei com pesadelo / Quase que o chão escangalho / Com dores no cotovelo / Por sonhar com trabalho" é uma hipérbole cômica que ressalta a aversão ao labor convencional. A frase "Se conversa adiantasse / Eu seria conselheiro / Se fraseado vingasse / Não andava sem dinheiro" mostra o Noel-mestre das palavras, ironizando a futilidade da oratória sem ação prática, mas de forma a justificar a sua própria condição. A música reflete não apenas a personalidade artística de Noel, mas também um olhar sobre uma faceta da sociedade brasileira da época, onde a boemia e a sagacidade eram, para alguns, formas de sobrevivência ou de resistência a um sistema que oferecia poucas oportunidades.

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