Cadê trabalho?
Letra
Você grita que eu não trabalho Diz que eu sou um vagabundo Não faça assim, meu bem Pois, eu vivo ativo neste mundoÀ espera do trabalho E o trabalho não vem Quando eu me sinto bem forte Vou procurar um baralhoMas, fico fraco e sem sorte Se vejo ao longe o trabalho Se conversa adiantasse Eu seria conselheiro Se fraseado vingasse Não andava sem dinheiroAcordei com pesadelo Quase que o chão escangalho Com dores no cotovelo Por sonhar com trabalho Trabalho é meu inimigo Já quis me fazer de tolo Marcando encontro comigo O trabalho deu o bolo
História da Canção
A canção "Cadê Trabalho?" é um exemplo brilhante do sarcasmo e da genialidade de Noel Rosa ao abordar temas sociais e o comportamento humano, especialmente no contexto da malandragem carioca dos anos 1930. Naquela década, o Brasil vivia as repercussões da Crise de 1929 e uma efervescência cultural que consolidou o samba como expressão nacional, ao mesmo tempo em que a figura do malandro era constantemente debatida e retratada.
Noel, o "Poeta da Vila", muitas vezes se colocava na perspectiva do malandro ou observava com humor suas idiosincrasias. Nesta letra, ele inverte a lógica da cobrança social, personificando o trabalho como um inimigo astuto que o evita: "Trabalho é meu inimigo / Já quis me fazer de tolo / Marcando encontro comigo / O trabalho deu o bolo". A ironia é a arma principal, com o eu-lírico justificando sua inatividade com uma criatividade singular, alegando que está "ativo neste mundo à espera do trabalho".
A menção a "Acordei com pesadelo / Quase que o chão escangalho / Com dores no cotovelo / Por sonhar com trabalho" é uma hipérbole cômica que ressalta a aversão ao labor convencional. A frase "Se conversa adiantasse / Eu seria conselheiro / Se fraseado vingasse / Não andava sem dinheiro" mostra o Noel-mestre das palavras, ironizando a futilidade da oratória sem ação prática, mas de forma a justificar a sua própria condição. A música reflete não apenas a personalidade artística de Noel, mas também um olhar sobre uma faceta da sociedade brasileira da época, onde a boemia e a sagacidade eram, para alguns, formas de sobrevivência ou de resistência a um sistema que oferecia poucas oportunidades.
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