Esquina da vida
Letra
É na esquina da vida Que assisto à descida De quem subiu...Faço o confronto Entre o malandro pronto E o otário Que nasceu pra milionárioE na esquina da vida Observo o valor Que o homem dá à mulher e ao amor E é por isso que ela Em qualquer situação Zomba da gente, sempre cheia de razãoÉ na esquina da vida Que espero ver você Estendendo a mão E implorando Já desiludida O meu perdão Para eu dizer que não
História da Canção
A canção "Esquina da Vida" emerge como uma obra de profunda observação social, característica do gênio de Noel Rosa. Embora não seja uma das suas composições mais conhecidas ou amplamente gravadas, sua letra ressoa com a sagacidade e o olhar crítico que marcaram o Poeta da Vila. Imaginemo-la composta em meados dos anos 1930, em pleno efervescer do Rio de Janeiro, quando as transformações urbanas e sociais serviam de palco para as crônicas cantadas de Noel.
Noel, com sua inconfundível perspicácia, utiliza a "esquina" não apenas como um ponto geográfico, mas como um observatório privilegiado da condição humana. É dali que ele discorre sobre a ascensão e queda social, tecendo um comentário mordaz sobre a efemeridade do sucesso e a inconstância da fortuna. A dicotomia entre o "malandro pronto" – aquele que domina as artimanhas da vida urbana – e o "otário que nasceu pra milionário" é um espelho das tensões sociais da época, onde a esperteza e a vivência das ruas muitas vezes sobrepujava a riqueza herdada ou conquistada sem suor.
A segunda estrofe mergulha na complexidade das relações de gênero, um tema recorrente na obra de Noel. Ele observa o "valor que o homem dá à mulher e ao amor", expondo a fragilidade e as contradições desses laços. A mulher, aqui, surge com uma autonomia e uma razão que a fazem "zombar da gente", talvez uma referência à sua capacidade de navegar pelas expectativas sociais com uma sabedoria própria, por vezes vista como um desafio à lógica masculina.
Por fim, a canção culmina em um desfecho quase irônico e de uma frieza calculada, onde o eu-lírico aguarda a desilusão alheia e a busca por perdão, apenas para, dramaticamente, "dizer que não". Essa recusa final encerra a narrativa com um tom de justiça poética e um sarcasmo amargo, revelando a profundidade do sentimento de alguém que, talvez, já tenha sido enganado ou desiludido no passado. "Esquina da Vida" é, assim, um retrato vívido da alma carioca da época, vista através dos olhos sempre atentos e geniais de Noel Rosa.
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