Composição de 1935 (aproximado)

Espera mais um ano

Letra

Espera mais um ano que eu vou ver
Vou ver o que posso fazer
Não posso resolver neste momento
Pois não achei o teu requerimento
(Espera, espera, espera)No samba tu quiseste me perder
Tentaste na orgia me arrastar
Mas hoje que eu não quero me prender
Procura um coronel pro meu lugarTu foste sempre a minha diferença
Chegaste me obrigar a te bater
Já chega de pancada e desavença
Espera mais um ano que eu vou verSapatos e vestidos eu te dei
E tu não me pagaste o que eu te fiz
De tanto te aturar eu já cansei
Agora vou voltar a ser felizA tua pretensão vai acabar
Meu câmbio vai subir, tu vais descer
As coisas para mim vão melhorar
Espera mais um ano que eu vou ver

História da Canção

A letra de "Espera Mais Um Ano" ressoa com a perspicácia e a observação social que caracterizavam o gênio de Noel Rosa, o "Poeta da Vila". Embora não seja uma composição com título largamente reconhecido ou com histórico de gravação específico atribuído ao mestre, a canção exibe a malandragem, a ironia e a acidez poética que fizeram de Noel uma figura ímpar na música brasileira.

A canção pinta um quadro vívido das complexas relações amorosas na boemia carioca dos anos 1930. O eu-lírico, um típico malandro noeliano, demonstra um misto de cansaço, desilusão e uma inabalável autoafafirmação. A mulher, que "quiseste me perder no samba" e "tentaste na orgia me arrastar", representa a figura feminina que, por vezes, tentava domesticar ou desviar o malandro de seu estilo de vida libertário. A recusa em "me prender" e a sardônica sugestão de "procura um coronel pro meu lugar" são puro Noel: uma crítica velada à busca por segurança material em detrimento da liberdade boêmia e da autenticidade.

A letra também aborda a questão financeira e as exigências do relacionamento: "Sapatos e vestidos eu te dei / E tu não me pagaste o que eu te fiz". É um lamento comum nas canções de Noel, onde o malandro muitas vezes se vê na posição de provedor, mesmo que contra sua vontade ou por manipulação. O desabafo "De tanto te aturar eu já cansei / Agora vou voltar a ser feliz" ressoa com a busca incessante do malandro por sua própria felicidade e autonomia, longe das "pancadas e desavenças" de um relacionamento desgastado.

O refrão "Espera mais um ano que eu vou ver / Vou ver o que posso fazer" é a personificação da malandragem: uma promessa vaga, uma protelação que esconde uma decisão já tomada de não ceder. A frase final, "Meu câmbio vai subir, tu vais descer", é a vingança poética do malandro, que prevê sua própria ascensão social ou financeira e a queda daquela que o tentou subjugar, um toque de humor amargo e realismo social. "Espera Mais Um Ano" é um espelho da alma carioca daquela época, com seus conflitos, paixões e a inconfundível ginga do samba.

Tópicos Relacionados

#Noel Rosa#Samba#Malandragem#Música Brasileira#Boemia Carioca#História do Samba#Anos 30#Ironia#Relacionamentos

Conheça outras obras

Mais crônicas e versos do Poeta da Vila o aguardam no acervo.

Explorar o Acervo Completo