Composição de Por volta de 1934

Não Faz, Amor

Letra

Não faz, amor, deixa-me dormir
Oh, minha flor, tenha dó de mim
Sonhei, acordei assustado
Receoso que tivesses me enganado
(Eu não durmo sossegado)Só tens ambição e vaidade
Não pensas na felicidade
E eu não descanso um momento
Por pensar que o teu amor é só fingimentoMas eu vou entrar com meu jogo
E vou pôr à prova de fogo
A tua sincera amizade
Para ver se tu falaste verdadeAmar sem jurar é bem raro
O verbo cumprir custa caro
Amor é bem fácil de achar
O que acho mais difícil é saber amarO mundo tem suas surpresas
Mas nós temos nossas defesas
Por isso eu estou prevenido
Pra saber se sou ou não traído

História da Canção

A melodia de "Não Faz, Amor", se de fato pertencesse ao vasto cancioneiro de Noel Rosa, nos presentearia com um recorte íntimo e talvez menos celebrado de sua obra. Embora não seja um de seus sambas mais conhecidos ou gravados, sua letra revela uma faceta do Poeta da Vila que ia além das crônicas boêmias e das ironias sociais: a da fragilidade e desconfiança nas relações amorosas.

Ambientada no Rio de Janeiro efervescente dos anos 1930, onde o amor e a paixão se misturavam com a ambição e a vaidade na efervescente vida social e na boemia, a canção de Noel (assumindo a autoria para este exercício) seria um lamento melancólico e um alerta perspicaz. A letra, com versos como "Sonhei, acordei assustado / Receoso que tivesses me enganado", evoca a insônia e a inquietação de um amante que sente o chão fugir sob seus pés. Noel, um observador arguto da alma humana, frequentemente explorava a complexidade dos sentimentos, e aqui, ele mergulharia na amargura da suspeita de que o amor possa ser "só fingimento", minado pela "ambição e vaidade" do outro.

A "prova de fogo" que o eu-lírico propõe ("Mas eu vou entrar com meu jogo / E vou pôr à prova de fogo / A tua sincera amizade") reflete uma estratégia quase "malandra" de testar a verdade, um traço que Noel muitas vezes atribuía aos personagens de suas composições. É a sagacidade carioca sendo aplicada à arena do coração, buscando desmascarar a falsidade. A constatação de que "Amar sem jurar é bem raro / O verbo cumprir custa caro" é um comentário atemporal sobre a dificuldade da fidelidade e da sinceridade, temas recorrentes em suas análises sobre os relacionamentos humanos.

Embora "Não Faz, Amor" não tenha alcançado o status de clássico como "Com que Roupa?" ou "Palpite Infeliz", sua existência, ainda que hipotética neste exercício, nos permitiria enxergar um Noel Rosa mais vulnerável, lidando com a dor da desconfiança e a necessidade de se precaver contra as "surpresas do mundo" e as "traições" do amor, revelando a profundidade psicológica que permeava mesmo suas obras menos difundidas.

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