Deixa de ser convencida

“Deixa de Ser Convencida”, canção de Noel Rosa, foi gravada em 1934, com a interpretação icônica de Mário Reis. A letra, um primor de sarcasmo e ironia, utiliza uma metáfora circense elaborada para criticar uma mulher que o eu-lírico considera presunçosa e teatral em suas relações.

Noel, com sua genialidade lírica, compara a vida e os relacionamentos a um picadeiro, onde a mulher é uma “perfeita artista” em seu “velho modo de vida”, sugerindo uma atuação ou uma farsa. O narrador, por sua vez, se apresenta como alguém com experiência em “acrobacia”, tendo “dado salto mortal no arame”, indicando que não é facilmente enganado e que conhece os truques do jogo. Ele se posiciona como o “domador” que transformará a “fera” (a mulher) em “fera abatida”, reforçando sua superioridade e discernimento.

A desilusão com o “amor de parceria” é um tema recorrente na obra de Noel e ressurge aqui com força, mostrando um ceticismo em relação a relacionamentos baseados em interesses ou aparências. A frase “Muita medalha eu ganhei!” sela a autoconfiança e a vivência do narrador, que se orgulha de não ser mais iludido. A música reflete o aguçado olhar de Noel para as nuances das relações humanas na efervescente Rio de Janeiro dos anos 30, onde as aparências muitas vezes ditavam as interações sociais.