Você vai se quiser
Letra
Você vai se quiser Você vai se quiser Pois a mulher Não se deve obrigar a trabalhar Mas não vá dizer depois Que você não tem vestido Que o jantar não dá pra doisVocê vai se quiser Você vai se quiser Pois a mulher Não se deve obrigar a trabalhar Mas não vá dizer depois Que você não tem vestido Que o jantar não dá pra doisTodo cargo masculino Desde o grande ao pequenino Hoje em dia é pra mulher E por causa dos palhaços Ela esquece que tem braços Nem cozinhar ela querVocê vai se quiser Você vai se quiser Pois a mulher Não se deve obrigar a trabalhar Mas não vá dizer depois Que você não tem vestido Que o jantar não dá pra doisOs direitos são iguais Mas até nos tribunais A mulher faz o que quer Cada qual que cave o seu Pois o homem já nasceu Dando a costela à mulherVocê vai se quiser Você vai se quiser Pois a mulher Não se deve obrigar a trabalhar Mas não vá dizer depois Que você não tem vestido Que o jantar não dá pra dois
História da Canção
“Você Vai Se Quiser” é uma obra-prima do samba de Noel Rosa, lançada em 1935, que mergulha com ironia e sarcasmo nas profundas transformações sociais e de gênero que o Brasil vivenciava na década de 1930. A letra, aparentemente generosa ao afirmar que “a mulher não se deve obrigar a trabalhar”, rapidamente revela o tom crítico e condicional do compositor em relação à emergente independência feminina e à sua entrada no mercado de trabalho.
Noel, com sua aguda percepção do cotidiano carioca, expressa aqui a perspectiva masculina tradicional da época, que via com desconfiança e até certo lamento a mulher deixando o lar para ocupar “todo cargo masculino”. A condição imposta – “Mas não vá dizer depois / Que você não tem vestido / Que o jantar não dá pra dois” – evidencia a expectativa de que a mulher, ao buscar sua autonomia, não deveria negligenciar as tarefas domésticas ou os 'benefícios' da dependência tradicional.
A menção aos “palhaços” que levam a mulher a “esquecer que tem braços” e a não querer “nem cozinhar” pode ser interpretada como uma crítica à influência externa (talvez outras mulheres, a moda ou ideias 'modernas') que desviariam a mulher de seu papel esperado. A referência bíblica de que “o homem já nasceu / Dando a costela à mulher” é um reforço sutil e irônico da ideia de que o homem é o provedor sacrificial, e a mulher, de alguma forma, sempre esteve em uma posição de 'débito' ou dependência. É um retrato complexo da tensão entre a tradição e a modernidade, capturado com a genialidade lírica de Noel Rosa, tornando-o um documento valioso para entender os costumes e as mentalidades da época.
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